Na verdade a matrícula de carro permite ligar estes indivíduos a pelo menos dois ataques contra magrebinos no Porto.

Os mesmos são conotados pelas autoridades como pertencentes ao grupo 1143, conhecido pela sua ideologia nacionalista e nazi


O numero 1143 terá acham estes ignorantes a ver com a independência de Portugal pois o Tratado de Zamora vindo da conferência de paz entre Afonso Henriques e o seu primo, Afonso VII de Leão, assinado a 5 de Outubro de 1143 é tido como a declaração de independência de Portugal e o início da dinastia afonsina.

Mas o problema é que ao tempo de Afonso Henriques existiam as três as religiões do Livro no recem nascido reino - o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

A presença de hebraica no ocidente peninsular vem ao tempo de Estrabão (58 a. C a 25 d.C) e Filon (13 a C a 54 p. C) pois logo no séc. I da era cristã chegou à Península a doutrina do Evangelho, e deparou-se, vidé Paulo, com a existência de colónias judaicas em Espanha: “...agora que terminei o meu trabalho nestas regiões, espero ir ter convosco (cristãos de Roma”)...”Irei visitar-vos quando for de viagem a Espanha...” (cf. Carta aos Romanos, 15,23-24).

Entretanto, em 711, veio uma expedição do norte de África, comandada por Tarique, desembarca em Espanha e desbarata completamente o exército do rei visigodo. O rei Rodrigo morre na luta e com ele a monarquia visigoda. Bastaram cinco anos para que os muçulmanos dominassem praticamente toda a Península.

Não obstante as lutas da reconquista, realizadas por Afonso Henriques e os seus Templários , nunca as minorias judaicas e e muçulmanas deixaram de existir e de afirmar as suas diferenças culturais e religiosas.

Em Lisboa e noutras localidades viveram em bairros próprios, as mourarias, com alcaide, eleito de entre os da sua etnia tal como os judeus nos seus bairros, as judiarias, com as suas comunas e sinagogas com juízes e poderosos próprios, alcaides dos mouros e rabis dos judeus.

O tempo, foi miscigenando as relações normais entre cristãos e judeus e muçulmanos formando costumes comuns e na adoção por cada uma das populações, de algumas regras jurídicas da outra, no tocante ao comércio, vida económica e aos contratos.

Durante a ocupação arabe muitos cristãos foram-se misturando com muçulmanos e adotando trajes, usos e termos deles sendo conhecidos como os moçárabes, isto é semelhantes aos árabes.

Relativamente à tolerância religiosa de D. Afonso Henriques, perante tamanha diversidade “ salienta-se “a carta de fidelidade (amizade) e segurança” concedida, em março de 1170, “tomando sob a sua proteção os “mouros forros” (livres) de Lisboa, Almada, Palmela e Alcácer do Sal”. De acordo com este documento, D. Afonso Henriques garante aos muçulmanos, “a quem após a comquista fora conservada a liberdade, que nenhum dano sofreriam em Portugal e que a nenhum cristão seria reconhecido o poder de os lesar. Ficariam sujeitos apenas ao alcaide que elegessem entre os da sua fé” (cf. Portugaliae Monumenta Historica (P.M.H.)-Leges-pág. 396, Esta carta contém disposições legais definindo o estatuto da comunidade muçulmana no seio da sociedade cristã que garantia, além de outras, a liberdade de religião.
Segundo a prof.ª Eva Maria Kemnitze este documento constitui uma das facetas mais ignoradas da História de Portugal (cf. Artigo publicado no Livro das Atas do 2.º Congresso Histórico de Guimarães). A história religiosa das três culturas demonstra que, em determinadas épocas e regiões (e ainda hoje), essas culturas cultivaram a intolerância religiosa, não obstante tal conduta não se enquadrar no âmbito da doutrina dos respetivos Fundadores. Tal facto confere maior importância à política do nosso primeiro monarca relativamente às três religiões.

A propósito dos conflitos no Médio Oriente e do terrorismo dos extremistas islâmicos, fala-se no diálogo intercultural e inter-religioso como forma de obter a paz entre as religiões e as nações. Saliente-se, no entanto, que a atual hostilidade entre entre muçulmanos e judeus não é uma inevitabilidade histórica, porquanto, em muitos aspetos, muçulmanos e judeus estão mais próximos do que em relação aos cristãos.

Na verdade, conviveram bem ao longo dos séculos, não só em Espanha e Portugal, como em Istambul (Turquia) e nos Balcãs. O seu profundo antagonismo, na atualidade, surgiu apenas no século XX e, nada tem a ver com a religião, mas sim com o conflito político entre israelitas e palestinianos, de tal modo que a relação entre judeus e muçulmanos não poderá melhorar sem se resolver o conflito israelo-palestiniano.
( D. Afonso Henriques e a tolerância religiosa, Diário do Minho, Narciso Machado)

Sabe-se que, em 950, não poucos judeus habitariam já a cidade de Coimbra havendo a notícia de uma compra, feita, tempo antes, por certos familiares daquele que viria a ser conhecido como S. Rosendo, de certas “uineas quas emimus de Iudeis in Quires”4, ou seja, “as vinhas que comprámos de/dos Judeus em Quires”, localidade que poderemos identificar com a actual Quimbres, justamente nos arredores de Coimbra.

O facto de se ter recorrido à compra de bens rústicos no seu território, será também indiciador de que as estruturas sociais e económicas não foram totalmente subvertidas, respeitando-se o Direito que obrigava à negociação em matéria de transacção de imóveis.

Em 1018, sabe-se que alguns judeus colaboraram na remissão de cativos cristãos em terras debaixo do domínio muçulmano, como aconteceu com uma D. Ermesinda e suas filhas, Goda e Eldora, que entregaram, a troca da sua liberdade intermediada justamente por certos Iudeos, 50 soldos de prata

Data de 1099, uma outra notícia alusiva à venda efectuada, na zona do actual concelho da Mealhada, de uma “villa Suffenes qui est de illos Hebreos”, ou seja, da “vila de Enxofões (freg. Murtede, c. Cantanhede) que é daqueles Hebreus”

Sabe-se também que, no século XIII, a concentração de propriedades da Sinagoga de Coimbra na área da actual freguesia de S. João do Campo, levava a que tais terras fossem registadas na documentação como “da sinagoga”, de onde derivou o topónimo local de “senoga” ou “sinoga” (registos de 1227 e 1268), fixando-se em “Cioga” (hoje Cioga do Campo e Cioga do Monte)

Na primeira metade do século XII, a sua Judiaria situava-se no exterior das muralhas da velha civitas, no sentido sudeste para nordeste, mas paredes-meias com elas, abrindo junto ao que, nesse século, poderá ter sido um pequeno largo/rossio fronteiro à Porta da Almedina, tendo por eixo a “via publica ebraiorum”, paralela ao declive da dita cerca da Almedina, para fechar, bem acima, no sítio da abertura da Porta Nova (fins século XII), hoje coincidente com o princípio da rua da Couraça dos Apóstolos.

Em linha com essa rua judenga, encontrar-se-ia, não muito distante, o cemitério judaico ou almocavara, citado muitas vezes na documentação coimbrã relativa a prédios peri-urbanos daquele período.

Enfim, como se vê este canto do planeta, alvo de muita circulação de muitos povos so pode ser entendido como um local para ser aprazível para todas e todos de todas as etnias, religiões e formas de viver pelo que é um autentico abuso e prova de ignorância o uso de 1143 para atos racistas!

Joffre Justino

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Foto de destaque: IA;   imagem ilustrativa retratando uma cena histórica e multicultural em Portugal durante o reinado de D. Afonso Henriques. A cena do mercado medieval em Lisboa é vibrante, destacando a coexistência harmoniosa entre pessoas de diferentes etnias e religiões.