Na madrugada de 15 de março de 1974, um telefonema alarmante acordou-me: movimentações militares estavam a acontecer. Não se sabia ao certo se seriam forças pró-fascistas ou antifascistas. O conselho era claro e direto: deveria sair de casa para evitar ser novamente capturado ou pior. Aquele foi o início de um período de intensa busca por segurança e liberdade.
Nos dias que se seguiram, entre o medo e a cautela, procurei alianças e apoio para um possível exílio. O objetivo era claro: fugir de um regime opressor e continuar a minha luta pela democracia e liberdade, longe das sombras da ditadura que tanto oprimiram nossa nação. França ou Bélgica pareciam destinos prováveis onde eu poderia reiniciar minha vida e militância.
As semanas que antecederam o 25 de abril foram um misto de ansiedade e desesperança. Embora rumores de uma revolta militar circulassem, a minha fé nas estruturas militares estava abalada. Vivendo a guerra colonial em Angola, testemunhei o quão complexo e arraigado era o sistema que sustentava o regime fascista. Não acreditava que uma transição pacífica fosse possível sem um confronto direto, uma revolução que desmantelasse as bases do autoritarismo.
A revolução de Abril, embora vitoriosa em derrubar o regime, deixou muitos de nós desiludidos e cautelosos quanto ao futuro. Decidi, então, buscar no exílio a continuação da minha luta. A esperança de uma nova estrutura política que pudesse verdadeiramente representar e elevar as vozes do povo português.
Cinquenta anos se passaram já desde aquele momento decisivo. Hoje, como Diretor do Estrategizado e continuando minha jornada como empreendedor e ativista social e político, reflito sobre esses dias com uma mistura de melancolia e gratidão. A luta por liberdade e justiça é constante, e cada passo, cada escolha que fiz, foram essenciais para moldar o ativista que sou hoje. Naquele longínquo 25 de abril, um jovem preso político viu a alvorada de uma nova era para Portugal, uma era que ainda estamos a construir.
Concluo com as palavras sábias de Nelson Mandela, que ecoam profundamente com a minha jornada e a história da nossa nação: "A verdadeira liberdade não consiste apenas em desembaraçar-se das próprias cadeias, mas em viver de uma forma que respeite e promova a liberdade dos outros."
Que este princípio guie nossa caminhada contínua rumo a uma sociedade mais justa e livre.
Joffre Justino