Mas vejamos como e porque tudo se alinhou para que acontecesse o desastre!

"…o Titanic ficou famoso porque foi o primeiro navio em que houve a aplicação de um conceito de projeto que visava a compartimentar o navio, dividindo-o em vários compartimentos, sendo que cada um seria estanque, ou seja, se a água inundasse um compartimento, não seria capaz de inundar o seguinte", segundo o engenheiro naval Alexandre de Pinho Alho, professor do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Esta solução esbarrou no desafio que era passar as tubulações e cabos elétricos ao longo do navio. "… Calcularam um limite razoável esperado [para inundação] em caso de avaria, concluíram que a água não chegaria até o teto, e criaram compartimentos mais ou menos estanques, ou seja, foram lá e fizeram uma proteção só até bem próximo ao teto", diz Alho lembrando que o choque com o iceberg foi tão grande que tornou essa ideia insuficiente. "O rasgo que foi feito no casco alcançou metade do comprimento. Lógico que a água chegou até o teto", acrescenta ele.
"O navio entrou …. em alagamento progressivo, um ponto a partir do qual não há mais como salvar a embarcação: você pode acionar todas as bombas, tomar todas as providências, não é possível tirar a água numa vazão maior do que ela entra".

O professor na Universidade Federal Fluminense, o engenheiro de transportes Aurélio Soares Murta realçou que mesmo o sistema de encerramento dos tais compartimentos estanques acabou não funcionando como planeado dado o forte impacto.

"A batida foi tão forte que ocasionou uma torção na estrutura do navio. Essas portas não conseguiram fechar. Elas emperraram", conta. "A metalurgia da época era diferente. O Titanic foi feito com o melhor aço disponível, mas isso é incomparável ao que temos hoje."

O engenheiro metalúrgico Jan Vatavuk, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que até a década de 1940 os cascos de navios eram feitos com chapas metálicas rebitadas — só a partir de então passaram a ser peças soldadas.

"Houve uma evolução muito grande das técnicas e dos materiais. A solda é um processo mais agressivo em termos de mudança de microestrutura na região fundida, já que coloca um material derretido para unir as chapas".

"E a partir da segunda Guerra Mundial, o aço passou a ser fabricado com uma porcentagem mais baixa de carbono e mais alta de manganês. O grau de limpeza dos materiais também melhorou. Hoje o aço é um material mais tenaz, mais adequado a superestruturas."

Vatavuk define os navios contemporâneos como "vigas elásticas", capazes de suportar a flexão causada pelos constantes movimentos das ondas. "Em caso de grandes tempestades, suportam bem. Temos de evitar a fadiga dos materiais o máximo possível."

Houve também a intensa pressão para que o navio fosse muito rápido, porque havia um prémio, instituído em 1839, chamado de Flâmula Azul, que visava a reconhecer e dar publicidade aos navios mais rápidos nas travessias transatlânticas e o Titanic entrou nessa corrida.

"Na época, os navios eram a maior obra de engenharia que a humanidade era capaz de realizar", ressalta Alho. "Havia uma disputa entre as principais companhias e também as principais nações construtoras de navios do mundo. No caso, Inglaterra e Alemanha. Cada uma queria fazer o navio maior e mais rápido."

A primeira viagem de um navio era sempre a melhor para conseguir bater esses recordes. Segundo o engenheiro, isso ocorre porque é quando a embarcação "experimenta as melhores condições para a travessia", pois, “O casco e a hélice estão limpos, os motores em condições perfeitas… A primeira viagem é momento ótimo para atingir a maior velocidade possível. E o Titanic tentou fazer isso", diz ele.

Há relatos de sobreviventes dizendo que o comandante do navio, mesmo tendo recebido a notícia de que havia icebergs nas proximidades, hesitou em diminuir a velocidade, justamente porque não queria perder a oportunidade de chegar o quanto antes ao destino final.

Apesar de grande para a época hoje o Titanic seria considerado um navio de dimensões modestas comparados aos transatlânticos atuais.

"Era o possante da época, o gigante dos mares. Mas se comparado com um de hoje, parece um barquinho", comenta Murta.

O Titanic media 269 metros de comprimento e entre a tripulação e os passageiros, ele comportava cerca de 3,3 mil pessoas, ora o maior navio de passageiros do mundo atualmente é o Wonder of the Seas, que tem 362 metros de comprimento, acomoda 7 mil passageiros e 2,3 mil tripulantes.

O naufrágio do Titanic, uma tragédia que terminou com a morte de cerca de 1.500 pessoas, abriu um precedente para que diversas melhorias de segurança fossem adotadas e a evolução da tecnologia, de lá para cá, também contribuiu — é claro, a começar pelo uso de equipamentos como radar.

Os primeiros equipamentos do tipo em alto mar foram utilizados apenas a partir da Segunda Guerra Mundial. "Naquela época [do Titanic], era tudo no recurso visual", explica Alho. "Um marinheiro ficava no alto do mastro para ver se conseguia localizar um iceberg. Era uma maneira precária, ainda mais com o navio andando na velocidade máxima."

Note-se que o Titanic terminou com muitos mortos porque nem equipamentos de salva-vidas havia para todos. "Como o navio 'não ia afundar de jeito nenhum', eles reduziram a quantidade de botes pela metade", diz Alho.
"O acidente do Titanic foi um divisor de águas para a segurança", comenta Murta.

"Depois dele, navios passaram a ter normas estruturais para a fabricação, padrões de segurança e planos de evacuação consistentes."

"E, claro, hoje radares e sonares identificam icebergs muito antes de um navio encontrar com ele. Além disso, as cartas náuticas, o mapeamento dos mares, tudo ficou muito mais sofisticado", acrescenta ele.

Neste dramático acidente marítimo morreram cerca de 1500 vidas com o Titanic mas espantosamente entre os sobreviventes estava a atriz Dorothy Gibson que vivera e continuará a viver agitadamente

Às 2.20, perto de 46 000 toneladas de peso bruto, um transatlântico, inclinavam-se num ângulo mortal de 45 graus e desciam a pique num mar gelado e a queda para o fundo do Atlântico Norte, 3795 metros, fez-se em poucos minutos.

A atriz, modelo e dançarina americana não só viveu in loco o naufrágio do Titanic, como a reviveu 31 dias decorridos sobre o confronto do icebergue com o Titanic recriando em filme o momento na película Saved From the Titanic, uma obra de dez minutos, de cinema mudo sendo a primeira entre muitas dramatizações da tragédia que fez de Dorothy a única mulher a sobreviver duas vezes à tragédia do Titanic, uma real, outra ficcionada.

Em 1912, esta atriz vivia um périplo europeu quando uma chamada dos EUA a propor-lhe um novo projeto cinematográfico a levou para um camarote de 1.ª classe no Titanic.

Na noite do desastre a atriz jogava bridge num dos sumptuosos salões do paquete e a dezenas de metros abaixo, a ponta de um icebergue furavs 91 metros de casco a bombordo.

Em 40 minutos 13 700 toneladas de águas invadiam o interior do navio e Dorothy Gibson sobreviveu nessa noite de 15 de abril dentro de um dos poucos barcos salva-vidas a abandonar o Titanic, o n.º 7.

Com Dorothy estavam na pequena embarcação um gentev famosa como Pierre Maréchal, aviador francês, Alfred Nourney, hedonista neerlandês e Margaret Bechstein Hays, que cuidaria mais tarde das que ficaram conhecidas como as duas crianças órfãs do Titanic, Michel e o seu irmão Edmond com os ocupantes do salva-vidas a terem de suportar o frio glacial até à chegada do navio Carpathia, na sua colheita de almas sobreviventes 4h depois !

Jules Brulatour, dono dos estúdios Éclair quis transpôr o drama para o cinema e Dorothy Gibson foi convidada a escrever o guião com as filmagens a decorrerem em tempo recorde.

Nma semana nasceu um enredo que envolvia Dorothy Gibson a interpretar-se a si mesma e a contracenar com pais e um noivo fictícios.

As filmagens nos estúdios em Fort Lee e no Porto de Nova Iorque, intercalavam imagens diversas de icebergues, do lançamento à água do Titanic; do seu comandante, Edward Smith e do navio irmão, o Olympic.

Os EUA, o Reino Unido, a França e s Alemanha renderam-se ao filme com o presidente dos Estados Unidos, William Howard Taft a receber uma cópia da película.

Na imprensa, a revista Motion Picture News tecia louvores à obra: “Maravilhosos efeitos mecânicos e de iluminação do filme, cenas realistas, reprodução perfeita e verdadeira história da viagem fatídica.” e em maio de 1912, a publicação Moving Picture World escrevia a propósito de Gibson: “Uma atuação única no novo filme sensacional da Éclair Company”, enquanto que outros, como a revista New York Dramatic Mirror, criticavam o oportunismo do filme, realizado aos ombros da dor dos sobreviventes.

Dorothy Gibson soube defender-se, dizendo que “O filme é a oportunidade de prestar homenagem àqueles que deram as suas vidas naquela terrível noite.”

Dorothy Gibson na Europa, onde se radicaria nos anos seguintes, chegou a serv acusada de simpatizante do nazismo, mas em Itália, seria presa sob a acusação de agitadora antifascista e Dorothy Gibson, a par de outros dois presos, conseguiu evadir-se da cadeia de San Vittore, em Milão, apoiados pela Fiamme Verdi, uma organização de resistência partidária de orientação católica romana.

LDorothy Gibson morreria com um ataque cardíaco em 1946 com hoje uns quase juvenis 56 anos.

O filme Saved From the Titanic  desapareceria num mar de fogo em 1914, num incêndio que deflagrou nos estúdios Éclair salvando-se apenas alguns pósteres, umas quantas fotografias e as críticas na imprensa.

Os seus papéis mais importantes foram Molly Pitcher em Hands Across the Sea (1912), o primeiro filme estadunidense de Eclair, e claro o Saved from the Titanic (1912), baseado em suas experiências no desastre.

Foi uma das atrizes mais bem pagas do cinema estadunidense da época!

https://youtu.be/z1mOljicab