E, portanto, com reservas, apoiámo-lo a si, Ramalho Eanes, mas no contexto do grupo dos 9!

Na verdade, preparámo-nos para alguma clandestinidade se o golpe descambasse para uma guerra civil e ou para um golpe fascista…o que, face ao posicionamento anterior dos 9, em especial Melo Antunes era quase nada provável, … mas havia esse quase nada!

Inicialmente imaginei, imaginámos, que iria haver golpe e contra golpe e la se dizia o primeiro a sair perde.

Na verdade não houve golpe mas houve um contragolpe sobre um ensaio de uma ação para uma revolução onde se viu um homem só ( nos frágeis media de então foi o que se viu!) a propor uma ação revolucionária na RTP e a ser bloqueado

Houve tiros, houve 3 mortos ( 2 entre os promotores do contra golpe e um dos que não fizeram golpe, mas preparariam teoricamente um golpe) e houve presos e houve exilados !

Caro cidadão Ramalho Eanes não houve quase nada heróico no 25 de novembro de 1975 e, sim, fui dos minúsculos e civis envolvidos no contragolpe, e felizmente que não houve nada de heróico, o que houve foram 3 inúteis mortos !

Devido a si também e, por tal, grato, mas bem mais grato aos 9 no seu conjunto e sobretudo a Melo Antunes!

No entanto, que fique claro, nunca menosprezei, nem menosprezarei os que, com alma e não interesse, acreditaram, mesmo erradamente, que era possivel a construção de um regime socialista em Portugal como aquele que deu a cara por essa revolução, que lamento dizê-lo nunca foi Otelo, tendo-o sido bem mais Duran Clemente!

Qualquer marxista decente, que acompanhasse, como o fizemos, a evolução do PREC ( para os mais jovens processo revolucionário em curso, 74/75 ate ao 25.11.75 ), só podia dizer que havia que fazer reduzir o ímpeto de uma revolução pequeno burguesa com forte apoio popular, mas nem sequer maioritário, mesmo nas cidades, mesmo nas duas maiores, mesmo entre os operários e trabalhadores!

Estamos em crer que Alvaro Cunhal percebeu bem essa realidade obvia, e geriu essa revolução pequeno burguesa até ao limite do que achava ser a vitoria no global e um empate no local!

Assim alimentou estruturas para militares para ter um instrumento negocial mas não de tomada do poder e se cercou a AR não a atacou, pelo contrario deixou a facção radical, a do seu partido e a de fora dele verdadeiramente de pé no ar, quase estatelada com a ordem de recuo dada !

Cunhal sabia que o PCP, e ate ele mais a Esquerda radical, não tinham quadros experientes suficientes para gerir um país no “pós revolução”, Cunhal sabia bem o contexto europeu de um Portugal em fim de festa imperial ( até adivinho que se espantou com o não radicalismo, direitista, dos 500 mil lusos colonos, alias brancos, mulatos e negros, “retornados” face ao fim de um império de 5 séculos!)!

Nos pelo menos, recordando o lido sobre os pieds-noirs fugidos da Argélia, espantámo-nos!

E vivemos tal bem no terreno, no então liceu da Amadora, a difícil mas mais rápida que o imaginado inserção desse brutal retorno, 5.% da população portuguesa de então!

Quem pôde acompanhar o PREC sabia que nas fabricas, nos escritórios, (não existiam super’s, o capitalismo portugues herdeiro do estatismo fascio sajazarento centrava-se nas mercearias), o turismo era uma quase falácia, nos campos, ate na região da reforma agrária, a base popular progressista era pequena, e sobretudo com um fraco histórico de formação progressista, e muito menos revolucionária e ou comunista, o que caracterizava a sua baixa autonomia face a outros interesses económico-sociais, locais ou globais!

Por outro lado, havia o contexto internacional, em nada favorável, no espaço europeu a movimentos revolucionários vencedores!

Havia à época um tempo de ascenso revolucionário fora da Europa e de radicalismo pós maio68 nesse continente que nao afetava somente o capitalismo privatista mas também o estatista e ainda por cima com o chamado “campo socialista” dividido entre os pró soviéticos e os pró Mao ( para os jovens o lider da Republica Popular da China, hoje um dos poucos ainda países comunistas) e, apesar da estrondosa vitória no Vietnam bem fragilizado por essa divisão!

A URSS cometeu o erro ( na verdade nem sequer por ela desejado diga-se, achamos nós hoje) de expulsar, em conluio com os EUA, a comunidade culturalmente portuguesa, branca, mulata e negra das ex colónias o que só tornou impossível o aproveitamento, pela URSS, económico-social do crescimento gerado nessas ex colónias, a partir de meados da década de 50 e ate ao 25.04.74 muito em consequência do resultado da guerra colonial!

E tal tornou as lusas ex colónias num sorvedouro de capitais e de recursos, humanos, e tecnológico-militares, em nada gerando valor acrescentado ao dito campo socialista!

Mas, regressando ao 25.11.75, a verdade é que, não só não houve golpe, como nem houve defesa do conquistado, ao ponto de a Esquerda comunista e a Esquerda radical surgirem bem divididas nas legislativas e entre Pato e Otelo nas Presidenciais de 1976!

Legislativas
Partido Líder(es) % Ass. ±
PS Mário Soares 34.89 107 -9
PPD Francisco Sá Carneiro 24.35 73 -8
CDS Diogo Freitas do Amaral 15.98 42 +26
PCP Álvaro Cunhal 14.39 40 +10
UDP Acácio Barreiros 1.67 1 0
Outros 4.03
Assim a Direita somou 40,33%, o PCP 14.39%, o PS 34,89%!

Ora a Esquerda radical toda junta obteve,( 1,67+0,77+0,3+0,57+1,67= 3,31% ) , o que tornou o campo comunista+radical bem frágil com uns fracos 17,7%

Houve ainda o esforço unitário no seio da Esquerda radical nas Presidenciais de 1976 que a leva a ter o espantoso resultado com Otelo Saraiva de Carvalho de 16,46 % esvaziando a candidatura comunista de Otavio Pato que se quedou nos 7,59% e ambos para uma vitoria de Ramalho Eanes nos 61,59% e com mais de 70.% de participação eleitoral!

Claro que com uma AR dividida e sem maiorias absolutas possíveis, dado o trauma à Esquerda do 25.11.75, e a teimosia e desconfiança relacional entre o PS, de Mario Soares e o PPD de Sa Carneiro, o país mostrou-se ingovernável ate 1979 gerido por um PR definitivamente presidencialista, Ramalho Eanes, por muitos esforços alternativos que Soares tentou desenvolver, até fazendo uma coligação com o CDS, numa tentativa de esvaziar o PPD e claro tendo-se atingido a primeira maioria absoluta da Direita com a unidade eleitoral desse campo politico!

E nasceu assim esta bem burguesa Democracia hoje partida em blocos sem maiorias, a nao ser que a Direita se cole ao fascio cheganismo!

Não, o 25.11.75 nada teve de heroico, nada teve de simpatia popular de rua, em nada foram importantes os jaime neves e cia, tendo sido um contragolpe face na verdade a um inexistente golpe !

E hoje um minúsculo e civil cidadão como eu, apoiante ativo então dos 9 , sente obvia simpatia pelo radical Duran Clemente e nenhum interesse por Eanes, que se limitou a cumprir ordens vindas dos 9 e nestes de um ja esquecido Melo Antunes!

Porque a Esquerda é feita para Mudar e não para chorar!

Joffre Justino

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Foto de destaque: IA;  ilustração conceitual representando os eventos de 25 de novembro de 1975 em Portugal, focando no caráter não heróico do contragolpe. A imagem apresenta um cenário urbano sombrio em Lisboa durante os anos 70, com uma atmosfera tensa e a presença sutil de elementos militares.