Quando ouvi na RTP, a televisão pública, um apelo à destruição do Estado iraniano, senti um arrepio profundo. Marcia Rodrigues, segundo me pareceu identificar, foi quem na RTP fez este controverso apelo.

No Estrategizando, posicionamo-nos firmemente contra qualquer forma de fanatismo, seja ele político, religioso, cultural, económico ou social. A nossa história já nos mostrou as sombras do fanatismo, como aquele vivido durante o Estado Novo. É por essa razão que nos mantemos defensores intransigentes das lutas por democracia e pelo aprofundamento dos valores democráticos, comprometendo-nos com a causa dos cidadãos que anseiam por uma sociedade mais justa e aberta.

Mas olhamos com critica dura sem vesguices nos olhos, quer para a ditadura na Coreia do Norte, como para a ditadura na Arabia Saudita e em quase todos os países islâmicos, e sabemos distinguir as democracias autoritárias vividas na Russia, ou na Hungria, ou na Polónia, ou os Estados autocráticos corruptos como em Angola, ou os Estados destruídos como a Guiné Bissau, das ditaduras paternalistas como na RPChina, onde até estão criados modelos participativos da ditadura participativa fanática religiosa vivida no Irão.

Para sermos claros também distinguimos a Democracia Presidencialista dos EUA, da Democracia Presidencialista da França, da Democracia parlamentarista britânica, de Democracia semi parlamentarista portuguesa ( apesar dos golpes marcélicos…)…

Agora ter ouvido o pivot da RTP falar sobre a necessidade de uma guerra das democracias ocidentais ( na Arabia Saudita a elite toda se arrepiou…) contra as ditaduras é, mais que uma prova de ignorância, é prova da “doença intelectual” que se chama fanatismo!

E já agora, citemos o esquecido artigo 7º  da Constituição da República Portuguesa!

Constituição da República

Artigo 7.º
Relações internacionais

1. Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para a emancipação e o progresso da humanidade.
2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança coletiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.
3. Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão.
4. Portugal mantém laços privilegiados de amizade e cooperação com os países de língua portuguesa.
5. Portugal empenha-se no reforço da identidade europeia e no fortalecimento da ação dos Estados europeus a favor da democracia, da paz, do progresso económico e da justiça nas relações entre os povos.
6. Portugal pode, em condições de reciprocidade, com respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito democrático e pelo princípio da subsidiariedade e tendo em vista a realização da coesão económica, social e territorial, de um espaço de liberdade, segurança e justiça e a definição e execução de uma política externa, de segurança e de defesa comuns, convencionar o exercício, em comum, em cooperação ou pelas instituições da União, dos poderes necessários à construção e aprofundamento da união europeia.
7. Portugal pode, tendo em vista a realização de uma justiça internacional que promova o respeito pelos direitos da pessoa humana e dos povos, aceitar a jurisdição do Tribunal Penal Internacional, nas condições de complementaridade e demais termos estabelecidos no Estatuto de Roma.

 

Assim, é imperativo que nos lembremos sempre dos princípios fundamentais que regem a nossa sociedade e a nossa comunicação pública. A televisão, enquanto meio de influência ampla, carrega uma responsabilidade substancial na moldagem das perspectivas e na promoção de um discurso que respeite a dignidade e a soberania de todas as nações. Invocar a destruição de um Estado, sob qualquer pretexto, contraria diretamente os valores de paz, respeito mútuo e solução pacífica de conflitos que são pilares da Constituição da República Portuguesa.

Como cidadãos e membros da comunidade global, devemos exigir e praticar um jornalismo que não só informe, mas também eduque e unifique, rejeitando qualquer forma de extremismo ou sensacionalismo. Ao fazê-lo, honramos não apenas o espírito da nossa legislação, mas também o da humanidade comum que compartilhamos.