No Brasil, estávamos sob uma ditadura que duraria muito tempo, em uma distensão “lenta, gradua e segura” (nas palavras do ditador de plantão). O sopro de liberdade que senti pelas ruas de Lisboa nos meados da década de 70 me deu ânimo para sonhar com novos ares também para os brasileiros.
Fiz depois outras viagens a Portugal e pude acompanhar o crescimento do país, a sua integração com a comunidade europeia, as inúmeras conquistas sociais e econômicas e, é claro, as muitas dificuldades neste percurso. Mas só agora, em 2025, nos 51 anos da derrubada da ditadura, passei um abril inteiro em Lisboa e pude ir às ruas curtindo o feriado ensolarado. Em minha opinião, nada mais adequado neste dia do que revisitar o Museu do Aljube.
Instalado no cárcere para prisioneiros políticos do Estado Novo, o Museu tem por missão preservar a memória do combate à ditadura, mantendo viva a luta em defesa da liberdade e da democracia. O projeto de adaptação do antigo presídio, de autoria dos arquitetos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, bem concebido e executado, apresenta documentos, imagens e objetos do regime, testemunhos da violenta repressão dos dissidentes através da censura, das polícias e dos tribunais políticos. Uma exposição temporária, “Antes de ser independência foi luta de libertação”, faz uma reflexão contundente sobre a resistência anticolonial.
No Brasil temos um museu semelhante, o Memorial da Resistência de São Paulo, em um edifício onde funcionou um dos braços mais pesados da repressão na ditadura, o DEOPS-SP. É um museu importante, porém na minha opinião o Museu do Aljube tem um diferencial ao transformar a “visita de um espectador distanciado” em uma experiência sensorial única. O visitante é impactado, se envolve intensamente, entra nas celas apertadas e escuras, tropeça no soturno labirinto de corredores e escadas até que, no meio das trevas, uma janela aberta para a Catedral da Sé e o Tejo nos invade com um céu azul e um abril de liberdade e nos faz sentir que devemos todos lutar sempre para que este abril se eternize.
Serviço: Museu do Aljube
Rua de Augusto Rosa, 42
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Foto de destaque: Criada por IA