No domingo a Venezuela denunciou que há cidadãos venezuelanos entre as vítimas mortais de ataques dos Estados Unidos a embarcações supostamente envolvidas no tráfico de droga no mar das Caraíbas e no Pacífico. 

Esta informação foi divulgada pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, na televisão pública, depois de se ter reunido com familiares de venezuelanos "assassinados, executados extrajudicialmente em ações claramente ilegítimas e ilegais" conduzidas pelos Estados Unidos.

Associated Press entretanto descobriu a identidade de quatro dos homens, e reuniu detalhes sobre pelo menos outros cinco, que foram mortos, o que lhe permitiu divulgar  o primeiro relato completo da identidade dos integrantes das embarcações alvejadas pelo governo Trump.

Em dezenas de entrevistas realizadas em vilarejos da costa nordeste da Venezuela , de onde partiram alguns dos barcos, moradores e parentes disseram que os homens mortos de fato traficavam drogas, mas não eram narcoterroristas, líderes de cartel ou gangues.

A maioria dos nove homens estava a tripular embarcações desse tipo pela primeira ou segunda vez, ganhando cerca de  US$ 500 por viagem, disseram moradores e parentes. Eram operários, um pescador e um mototaxista.

Dois eram criminosos de carreira de baixo escalão e um era um conhecido chefe do crime local que terceirizava seus serviços de contrabando para traficantes.

Os homens viviam na Península de Paria, em casas de blocos de concreto sem pintura, que podiam ficar semanas sem água encanada e sofriam frequentes quedas de energia por várias horas diárias.

Quando chegava a hora de transportar as drogas, embarcavam em pequenos barcos de pesca de casco aberto, movidos a potentes motores de popa, para levar as drogas até Trinidad e outras ilhas próximas.

Ao que os media chamaram de “lanchas”…

Os moradores e familiares entrevistados pela AP pediram anonimato por medo de represálias de traficantes de drogas ou dos governos da Venezuela e dos EUA.

Eles disseram estar indignados com o fato de os homens terem sido mortos sem o devido processo legal

De facto, no passado, os seus barcos teriam sido interceptados pelas autoridades, e os tripulantes acusados de crimes, garantindo-lhes um julgamento justo.

"O governo dos EUA deveria tê-los detido", disse um parente de um dos homens.

Tem sido difícil também para os familiares obter detalhes sobre as mortes e paradeiro dos corpos, pois gangues criminosas e o governo venezuelano reprimem o fluxo de informações na região.

Autoridades venezuelanas criticaram duramente o governo dos EUA pelos ataques, e o embaixador do país na ONU classificou os ataques como “execuções extrajudiciais”.

Como referimos o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, reuniu-se no  domingo, 30.11, com familiares das pessoas falecidas nos bombardeios estadunidenses contra embarcações de supostos narcotraficantes, informou em conferência de imprensa.

O governo do presidente Donald Trump realizou ataques contra cerca de 20 barcos suspeitos de tráfico de drogas no Caribe e no Pacífico desde o início de setembro, com um saldo de pelo menos 83 mortos, sem apresentar nenhuma prova de que estivessem sendo usados para o tráfico.

A Venezuela, solicitou à ONU que investigasse os factos, e alega que essas operações na realidade buscam derrubar o presidente Nicolás Maduro.

"Há poucos minutos nos reunimos no gabinete da presidência da Assembleia Nacional com familiares de venezuelanos assassinados, executados extrajudicialmente nas ações claramente ilegítimas e ilegais que têm sido perpetradas desde 2 de setembro por militares dos Estados Unidos", disse Rodríguez.

O chefe do Parlamento, mencionou um artigo do Washington Post que afirma que o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, havia ordenado durante um dos bombardeios que todos os passageiros do barco fossem eliminados, o que levou os militares a realizar um segundo ataque.

Rodríguez classificou essa ação como "crime de guerra". Mas "já que não há nenhuma guerra declarada entre países, isso que ocorreu, ou isso que tem ocorrido, não pode ser catalogado de outra forma senão como assassinatos de execuções extrajudiciais", argumentou.

Rodríguez também anunciou que a Assembleia proporia a criação de uma comissão especial, composta por parlamentares, "para investigar os graves fatos que levaram ao assassinato de venezuelanos em águas do mar do Caribe".

Disse que a comissão também irá avaliar medidas de proteção para os familiares das vítimas, que receberam supostas ameaças "por setores e pessoas que têm um máximo interesse em que não digam a verdade e não se esclareçam os fatos".

O jornal The New York Times informou na sexta-feira que Trump e Maduro conversaram na semana passada por telefone e abordaram uma possível reunião nos Estados Unidos.

Rodríguez recusou-se a confirmar ou desmentir essa informação ao ser questionado por jornalistas.