A presença de mais de 100 participantes cabo-verdianos — entre startups, empresários, jovens talentos e membros da diáspora — foi, por si só, uma demonstração de força. Para o governante, a diáspora europeia é parte essencial do ecossistema: “Tentamos preencher o fosso entre os residentes e quem vive fora. O digital permite-nos isso.” Essa ponte, construída em torno da identidade e da tecnologia, é um dos pilares da estratégia de internacionalização do país.
O governo cabo-verdiano está a colocar as peças certas na mesa. O novo Parque Tecnológico, recentemente inaugurado, integra centros de incubação, formação, negócios e, de forma crucial, data centers capazes de suportar novas empresas e atrair investimento internacional. A estes juntam-se investimentos em cabos submarinos que ampliam a conectividade do arquipélago e consolidam a sua proposta como hub digital.
Para Milton Cabral, a visão é clara: criar as bases físicas e culturais para que Cabo Verde seja o primeiro porto digital seguro, estável e eficiente para empresas que desejam entrar no mercado africano. A colaboração com o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento reforça esta ambição, permitindo que projetos como o Morabaz Innovation Project elevem o ecossistema a outro patamar.
Pedro Lopes lança uma provocação que ecoou pelo auditório: “Não é preciso ser um génio para perceber o futuro do mundo. Se África não está presente em eventos globais como este, algo está errado.”
É esta consciência de urgência e presença que coloca Cabo Verde numa posição especial. O país tem a vantagem da escala: pequeno, ágil, flexível, com estabilidade política e cultural, e com uma localização geográfica que liga continentes. É “um sítio onde as pessoas podem celebrar a sua identidade”, afirma o Secretário de Estado, realçando o ambiente multicultural, seguro e integrador do país.
A visão é simultaneamente económica e humana: formar uma geração que não seja apenas espetadora, mas protagonista num mundo em rápida mudança. Como referiu Pedro Lopes, “se quer fazer negócios em África, faça-os com africanos”.
O ecossistema cabo-verdiano não quer ser local: quer ser global. Além da Web Summit, o governo tem levado startups a eventos internacionais como o Gitex (Marrocos e Nigéria), The Next Web (Amesterdão) e Web Summit Rio, reforçando ligações com diferentes comunidades tecnológicas e diásporas.
Esta aposta não é simbólica: para muitas startups, custear uma viagem ou entrada em eventos internacionais é inviável. O governo assume essa responsabilidade como um investimento estratégico no futuro económico do país.
O setor público é, neste momento, o maior utilizador de soluções digitais, fruto de mais de vinte anos de investimento em e-governance. Mas o objetivo é expandir o impacto:
Turismo como vertical prioritário para inovação;
Testes de soluções tecnológicas num “país laboratório”, antes de escalar para mercados africanos maiores;
Crescimento da comunidade tecnológica, composta por jovens, startups e talento da diáspora.
Pertencendo à minoria lusófona do continente, Cabo Verde enfrenta desafios de visibilidade no contexto africano dominado por países francófonos e anglófonos. Mas responde com a sua maior arma: fazer mais barulho do que o seu tamanho sugere. A diversidade é celebrada como força e identidade. “Não importa a cor da pele, a religião ou a orientação. Importa que se respeite o próximo e o ambiente”, defende Pedro Lopes.
Num mundo em aceleração, a postura cabo-verdiana é pragmática, humana e inspiradora. África é o continente do futuro, mas, como sublinha o governante, esse futuro só faz sentido se os africanos puderem viver e prosperar nas suas próprias terras.
A mensagem final ecoa como promessa e como visão: Cabo Verde quer ser pequeno no mapa, grande no mundo.
Entrevista completa a Pedro Lopes, Secretário de Estado da Economia Digital de Cabo Verde (Web Summit): “PEDRO LOPES - SEC ESTADO CABO VERDE”
Informações adicionais sobre o Parque Tecnológico de Cabo Verde e programas de economia digital:
https://tecnopark.cv/
https://governo.cv/