A escritora Lídia Jorge, natural do Algarve, foi a presidente da Comissão Organizadora e, no seu discurso, deixou um apelo profundo à consciência coletiva dos portugueses.

Com palavras certeiras e marcadas por uma força humanista e poética, Lídia Jorge afirmou: “Somos descendentes de escravos”...“Qual é o conceito de ser humano?”

Num dia tradicionalmente dedicado à exaltação da pátria, estas frases ressoavam como um convite à introspecção e ao reconhecimento das complexidades da história nacional. Em Lagos, cidade onde outrora funcionou um dos primeiros mercados de escravizados da Europa, o simbolismo foi inegável.

A autora de obras incontornáveis da literatura contemporânea portuguesa desafiou a narrativa habitual das comemorações, resgatando a necessidade de encarar o passado com lucidez e de pensar o futuro com coragem, empatia e inclusão.A cerimónia contou com a habitual presença das Forças Armadas, com desfiles e honras militares, mas foi a palavra da literatura que se destacou.

Lídia Jorge não procurou o conforto da retórica tradicional. Em vez disso, ofereceu-nos a inquietação das perguntas certas:“Qual é o conceito de ser humano?”Num momento em que o mundo assiste a tensões sociais, fenómenos de exclusão e revisionismos históricos, a intervenção da escritora algarvia trouxe o foco para a dimensão ética e civilizacional da ideia de Portugal.

Este 10 de Junho, celebrado em Lagos, não foi apenas uma evocação do passado glorioso. Foi, sobretudo, um espelho do presente e uma janela para o futuro — um momento raro em que o país foi desafiado a pensar-se com profundidade.

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Foto de destaque: Renderizada por IA