Texto reacionário este? Creiam-me que não que é a outra visao do Espaço da Lingua Portuguesa no Planeta Terra!

Leiam e verão tal, resultando de reflexões vividas com entre outros mas principalmente o historiador Eugenio Monteiro Ferreira, Angolano antes do mais, português depois,

 

  1. O sonho imperial teocratico português

2005!

Eu nao quis voltar a ver  a minha terra destruida, nao os edificios, nao as ruas e estradas  mas a comunidade humana!

Nao quis voltar a ver a chibata a bater num corpo negro desta feita usada por um negro!

Em 1992 vi-o numa esquadra da policia o chicote na mao de um policia negro a zumbir num corpo negro meio adormecido pelo caporroto para eu ver bem o que me iria acontecer

Em 2005 vi-o num lar mestiço o dono da casa a dar uma paulada a um puto negro seu empregado, quiçá escravo!

Os velhos do restelo estao pois bem espalhados no espaço lusofono hoje miscegenado como nunca

Num mundo onde nao houve Descobrimentos, houve sim Reencontros e Expansão!

Reencontros onde as viagens templario-portuguesas potenciaram uma reaproximação de comunidades hunanas perdidas no espaço e nos tempos entre solidariedades sexo, paixoes e amores ( e o Fado)  e Expansao onde colhemos o mal das escravaturas, das violacoes sexuais e da saudade!

2025!

Lisboa e uma boa parte de Portugal está hoje bem mais humanamente colorida que em 1969 quando porque o Imperio falhava tive de vir estudar para o Porto e depois Lisboa!

Um grão mestre Maçon o bem radical Mais Velho Eugenio Oliveira contou-me uma belissima historia sobre o colonialismo à salazarento!

Chegado a Portugal  numa visita de familia ( as conhecidas “graciosas”) estava a passear por Lisboa com o pai orgulhoso a mostrar-lhe a “capital” quando o miúdo Eugenio teve a triste ideia de perguntar “ mas pai nao há aqui templos hindus?”

De imediato uma resposta do tambem militar pai acompanhada por uma forte tapona ( Eugenio de Oliveira dixit!) “ aqui nao há templos hindus! Aqui ha templos catolicos! Aqui é a capital do Imperio!” !

Este colonialismo à salazarento nada tem a ver com as vivencias de comerciantes portugueses matas africanas a dentro, ou nas urbes coloniais onde por vezes os africanistas portugueses preferiam alinhar com o soba africano contra o expansionista Paulo Dias de Novais quando em 1575 estabeleceu a primeira capitania no que viria a ser a capital de uma ainda inexistente Angola, Luanda, numa negociação confronto entre o referido “capitao” e o reino do Ndongo, cujo soba ou rei tinha o título de “Ngola”, tendo sido este o nome que os portugueses adotaram para a região no seu todo - Angola!

Alguns dirao - estamos a branquear o colonialismo português- quando na verdade estamos a procurar uma solução para uma presença global feita por um país com na altura algo como 1 milhão de cidadaos!

Simplificando se metade eram mulheres ficam 500 mil se metade eram crianças ficam 250 mil se 1/3 eram idosos ficam 80 mil…

Para se lançarem para uma expedição, que cobriu todo o planeta,  claro que somente com pequenas feitorias comerciais ( da escravatura à quinquilharia ) so existentes por autorização/ acordos com os lideres locais!

Reparemos que entre 1556. Camões  escreveu os Lusiadas, concluídos aí por 1571 e publicada em Lisboa em 12 de março de 1572!

Ora é sobre esse periodo que um tal Spirito Santo relata que,

“… em 1570 as relações de Portugal com a África, bem sabemos, mal haviam começado. A escravidão não era ainda o negócio de proporções continentais em que se transformou. Mas havia – é o que esta imagem revela – já intensa presença de africanos em Lisboa, muitos desses negros, inclusive, livres leves e soltos. Há também à direita, abaixo, atrás de dois homens brancos – pasmem! – num aspecto que a meticulosa descrição abaixo não menciona, um nobre negro (quem seria?), perfeitamente trajado à portuguesa e á cavalo (!), seguido por dois pagens, talvez em visita à Corte lisboeta, quem sabe se é alguém do Reino do Kongo ou do Nsoyo, regiões com as quais Portugal logo estabeleceu relações após a chegada falsamente amistosa de Diogo Cão, pouco mais de 70 anos antes e de onde, provavelmente veio a maioria dos negros da imagem. (Sobre o negro a cavalo, muito ainda hei de falar, pois, pude observar que ele usa na toga, bem à vista, o símbolo da ordem eclesiástica-militar de Santiago, sendo um mistério ainda absoluto a presença de um nobre negro em ordem tão restrita, tão importante nas Cruzadas)Comecei por opção óbvia a estudar a tela no geral, principalmente no que diz respeito á datação, que variava, entre os diversos sites de arte medieval que consultei como tendo sido feita entre 1540 e 1620.”

( https://spiritosanto.wordpress.com/2018/10/05/o-cavaleiro-negro-de-alfama/)

  1. O enterro do sonho

Alguns dirao que o enterro  aconteceu em 1975 com as Independências, outros dirao que aconteceu em 1961 entre 04.01.61 e 13.03.61 ou a 04.02.61!

Nós achamos que um imperio mais ideologico que economico, ao ponto de evangelizar todo o escravo e até como se viu no Brasil vender-lhe a liberdade por ouro e ate por amor  nao pode ter morrido por guerra.

Morreu sim quando um papa,  Paulo VI, no dia 1 de julho de 1970, há 55 anos, recebeu Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos e Agostinho Neto, os lideres do PAIGCV, da FRELIMO e do MPLA.

Rasgadas assim as bulas que justificaram os Reencontros/Expansao portuguesa pouco mais durou o colonialismo portugues pois entre 1973 e 1975 sucederam-se umas atrás das outras as Independências de Lingua portuguesa!

Assim,

A 24 de setembro de 1973 dá-se a unilateral Independência da Guiné Bissau

A 28 de setembro de 1974 morre o sonho federalista neo colonial para o Imperio, desejado por Spinola e a Direita portuguesa, a mesma que a 12/13 de abril de 1961 travou, com um golpe militar fascista, contra Botelho Moniz, a possibilidade de uma via federal pós colonial salazarenta!

A 25 de junho de 1975 dá-se a Independência de Moçambique

A 5 de julho de 1975 dá-se a Independência de Cabo Verde

A independência do arquipélago de São Tomé e Príncipe aconteceu a 12 de julho de 1975

A 11 de novembro de 1975 dá-se a dividida Independência de Angola em Luanda e no Huambo

A 28 de Novembro de 1975 dá-se a Proclamação unilateral da Independência de Timor-Leste pela FRETILIN e pelo primeiro Presidente da República, Xavier do Amaral e a 20 de maio de 2002, foi devolvida a soberania a Timor depois da ocupação pelos indonesios

É neste contexto historico que olhamos para a promulgação da triste, proto totalitaria e anti histórica "lei de estrangeiros" imposta pela lusa Direita com um seu ministro a  defendeu que foi "um dia muito importante para o país".

Eis a vitoria, com este enterro dos “velhos do restelo “ perante a leitura do PSD  António Leitão Amaro sobre a decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ( filho de um governador colonial fascista), de promulgar o decreto da Assembleia da República a  alterar radicalmente o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional

O ainda PR Marcelo Rebelo de Sousa defendera  que o diploma, diz ele em auto defesa, revisto e aprovado por 70% dos deputados, "corresponde minimamente ao essencial das dúvidas de inconstitucionalidade suscitadas por si e confirmadas pelo Tribunal Constitucional".

Como se e sem entrar em mais reflexoes constitucionais nao pudessemos ler na Constituição da República,

 

4. Portugal mantém laços privilegiados de amizade e cooperação com os países de língua portuguesa. ( Artigo 7.º

Relações internacionais )

Artigo 15.º

Estrangeiros, apátridas, cidadãos europeus

Aos cidadãos dos Estados de língua portuguesa com residência permanente em Portugal são reconhecidos, nos termos da lei e em condições de reciprocidade, direitos não conferidos a estrangeiros, salvo o acesso aos cargos de Presidente da República, Presidente da Assembleia da República, Primeiro-Ministro, Presidentes dos tribunais supremos e o serviço nas Forças Armadas e na carreira diplomática.

 

Eis porque nos recusamos a ler nesta absurda velha-resteliana lei  uma estrita  "…mudança na política de imigração, agora regulada, com mais controlo, mais segurança, mas também mais dignidade para quem chega, para os imigrantes que acolhemos. Não é o primeiro capítulo e não é o último da mudança da política de imigração", pois é sim o

Enterro de 5 seculos de Historia do que muito bem Darcy Ribeiro tratou como o Imperio Teocratico Mercantilista

Atreve-se ainda Leitão Amaro a dizer que "Nós respeitamos integralmente, como eu creio que foi evidente, a posição do Tribunal Constitucional - da sua maioria -, as posições do Presidente da República, não vou naturalmente comentar o conteúdo, vou saudar a promulgação", disse, sem comentar o facto de Marcelo Rebelo de Sousa considerar que o novo texto responde "minimamente" às suas dúvidas, num minimo conceptual que na realidade rasga 5 seculos de Historia

5 seculos rasgados que nao sao somente da Historia de Portugal ou da Historia da CPLP, país a país, regiao a regiao, porque sao da Historia da Humanidade!

 

Luis de Camões, Fernando Pessoa, Alda Lara, e Francisco José Tenreiro entre muitos outros poetas, escritores, etc, desde ontem 16.10 choram, pelo seu enterrar para o caixote do lixo da História, em iniciativa praticada mais uma vez pelas Direitas, PSD, Chega, e IL

E claro pelo mau pensar pelas Esquerdas de 5 seculos de História da Humanidade!

  • Luis de Camoes e o Velho do Resto -

Mas um velho, de aspecto venerando,

Que ficava nas praias, entre a gente,

Postos em nós os olhos, meneando

Três vezes a cabeça, descontente,

A voz pesada um pouco alevantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,

C'um saber só d'experiências feito,

Tais palavras tirou do experto peito:

95

— "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C'uma aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

  • Fernando Pessoa e o PADRÃO-

O esforço é grande e o homem é pequeno.

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para diante naveguei.

 

A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus.

 

E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.

 

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma

E faz a febre em mim de navegar

Só encontrará de Deus na eterna calma

O porto sempre por achar.

( padrao fernando pessoa )

  • Francisco José Tenreiro e o Mestiço!-

Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição
como l e l são 2.

Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!
Mas eu não me danei ...
E muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor! ...

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro.
Pois é...

( Francisco José Tenreiro )