Perdoem-nos, mas a burocracia mental que reina na Assembleia da República (AR) continua a desafiar os limites do suportável.

Em 2025, celebramos 50 anos do 25 de Abril, sim. Mas também celebramos 50 anos das Independências das ex-colónias! Ou devíamos. Mas não, a elite política prefere enterrar a cabeça na areia e fingir que esse detalhe histórico não tem relevância. Porque dar palco aos verdadeiros protagonistas da história seria, claro, uma afronta ao seu universo de narrativas convenientes.

O Tema Que Devia Ser e O Que Vai Ser

A história das ex-colónias e do colonialismo tardio de Portugal nunca foi um capítulo fácil de engolir para as direitas nacionais. Portanto, em vez de reconhecermos, finalmente, os povos que conquistaram a sua independência e os laços culturais que persistem através da CPLP (sim, aquela organização de que Portugal foi forçado a fazer parte, em 1996, décadas depois de todos os outros já estarem alinhados), vamos sim ouvir os discursos indignados e inflamados sobre um pequeno "incidente" de 25 de novembro de 1975. Um "detalhe", dizem eles, que garantiu que "a Cidadania queria a Democracia", quando na verdade foi a machadada final no sonho de uma revolução que fizesse jus ao grito de liberdade.

E assim, em 2025, ouviremos os expectáveis elogios a um tal Sr. Neves, entusiasticamente citado pelo paladino da cheganice, que nos recordará com nostalgia os tempos em que "mandavam-no limpar e ele limpava". Sob o silêncio embaraçado da maioria, claro. Todos, menos o Livre (salvé!), que ousou questionar esta revisão histórica grotesca e ainda levou nas orelhas do excelentíssimo Presidente da AR por se atrever a desafiar o "status quo".

O Convidado Que Nunca Chega

Mas não pára por aqui. Até sugerimos algo revolucionário (que audácia!): convidar antigos membros da CLAC, CLAC-Vencerão, Guerra Popular e BAC para falarem nesta sessão da AR. Afinal, não foram só os militares que escreveram a história, não? Mas, claro, a burocracia mental instalada nas Esquerdas, que mais parecem hipnotizadas pelo desejo de votos, travou qualquer iniciativa desse género. Estranho como tão poucos se reconhecem no combate antifascista e anticolonialista. Não há energia para isso; há, sim, um entusiasmo inexplicável para dar palco aos "antigos combatentes" da outra barricada, aqueles que apenas ajudaram a atrasar a nossa entrada na comunidade de língua portuguesa. Prioridades, certo?

O Circo Continua

Preparem-se então para mais um espetáculo digno de um teatro mal encenado. Em vez de celebrarmos a história completa, vamos ouvir as queixas de sempre, os discursos de sempre, os ataques de sempre. Com um pouco de sorte, ainda arranjam maneira de reabilitar mais umas figuras do passado que deviam estar bem guardadas no baú do esquecimento.

E assim vai o país, com a sua classe política a arrastar-se de comemoração em comemoração, sem um pingo de coragem para encarar a história com olhos de ver. E nós? Bem, nós assistimos, descrentes, ao triste espetáculo. Como todos os anos.

Nota do Editor

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