A morte saiu à rua num dia assim,
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim,
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai.
O vento que dá nas canas do canavial,
E a foice duma ceifeira de Portugal,
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu.
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual,
Só olho por olho e dente por dente vale.
À lei assassina à morte que te matou,
Teu corpo pertence à terra que te abraçou.
Aqui te afirmamos dente por dente assim,
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim.
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação.
José Afonso
Natural de Pinhel, foi aluno da Escola de Belas Artes de Lisboa onde entrou em 1942 onde frequentou primeiro o curso de Arquitetura, e depois o de Escultura.
Aderiu à Frente Académica Antifascista e, mais tarde (em 1946), ao MUD Juvenil.
Ativista estudantis em 1947, aderiu ao Partido Comunista Português e, em 1949, foi detido pela PIDE após participar na campanha presidencial de Norton de Matos.
Em 1952, foi expulso da Escola Superior de Belas Artes e impedido de ingressar em qualquer faculdade do país; seria também demitido do lugar de professor do Ensino Técnico.
José Dias Coelho, em 1952, será desenhador com os arquitetos, Keil do Amaral, Hernâni Gandra e Alberto José Pessoa numa oficina na Rua Fernão Álvares do Oriente 8 CV/Esq., no Bairro de São Miguel em Lisboa.
Em 1955 entra para a clandestinidade, enquanto exercia funções no PCP, com o objetivo de criar uma oficina de falsificação de documentos para dar cobertura às atividades dos militantes clandestinos.
Exercia esta atividade na altura do seu assassinato pela PIDE, em 19 de dezembro de 1961, na Rua da Creche, que hoje tem o seu nome, junto ao Largo do Calvário, em Lisboa.
O assassinato levou o cantor Zeca Afonso a escrever e dedicar-lhe a música A Morte Saiu à Rua e o grupo Trovante com a música Flor da Vida.
Com Margarida Tengarrinha, também artista plástica teve três filhas.
Como escultor, teve duas esculturas para a Escola Primária de Campolide (secções feminina e masculina) e uma grande escultura para a Escola Primária de Vale Escuro, em Lisboa, e dois baixos-relevos, um para o Café Central das Caldas da Rainha, e outro para a fábrica Secil.
Já estava na clandestinidade quando, em junho de 1956, se realizou a 10.ª e última das Exposições Gerais de Artes Plástica onde José Dias Coelho foi um dos organizadores desde a primeira edição em 1946, e é um dos artistas que expõe a partir da segunda.
Por não poder participar abertamente na 10.ª edição por estar na clandestinidade, um grupo de amigos expõe a escultura da cabeça da irmã Maria Emília, que já havia sido exposta, para garantir que o seu nome consta do catálogo.
Com uma intensa atividade social e intelectual a par da política, travou e manteve amizade com várias figuras destacadas da sociedade portuguesa de então, tais como os arquitetos, Keil do Amaral e João Abel Manta, com Fernando Namora, Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, Eugénio de Andrade, José Cardoso Pires, Abel Manta, Rogério Ribeiro, João Hogan, bem como aqueles que viriam dentro em breve a liderar os movimentos de independência em África, na altura estudantes em Lisboa: Agostinho Neto, Vasco Cabral, Marcelino dos Santos, Amílcar Cabral e Orlando Costa.
Em março de 1975, quase um ano depois do 25 de Abril, foi finalmente organizada uma exposição na sua homenagem, na Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa.
Nota especial
Ao recordar a vida e o sacrifício de José Dias Coelho, um homem que dedicou a sua arte e a sua vida à luta pela liberdade e pela justiça, somos chamados a refletir sobre a importância de manter viva a chama da verdade e da solidariedade.
Convidamo-lo a assinar o nosso jornal online, para que juntos possamos continuar a erguer a verdade como o nosso norte, preservando a memória e os valores que definem a nossa história e a nossa identidade.
Antonio de Sousa