A economia europeia vive um daqueles momentos em que as estatísticas, quando finalmente chegam, apenas confirmam o que muitos cidadãos já sentem no dia a dia: o custo de vida não abranda e as oportunidades de trabalho encolhem.

Os mais recentes dados do Eurostat revelam um cenário que exige atenção séria e respostas coordenadas.

Em novembro, a inflação na zona euro voltou a subir para 2,2%, afastando-se do objetivo de 2% definido pelo Banco Central Europeu. Esta subida, aparentemente modesta, é significativa num contexto em que o BCE tenta estabilizar preços sem sufocar a atividade económica. A energia desacelerou menos do que o esperado, e os serviços — tradicional motor da economia europeia — registaram um aumento expressivo de 3,5%, sinalizando pressões persistentes nos setores que mais empregam.

A inflação subjacente, que exclui elementos voláteis como energia e alimentos, manteve-se em 2,4%. Este indicador é especialmente importante porque mostra o que realmente está a acontecer “debaixo da superfície”. Para os analistas, permanecer acima da meta significa que o alívio pode ainda estar longe.

Paralelamente, o mercado de trabalho dá sinais claros de fragilidade. A taxa de desemprego na zona euro subiu para 6,4% em outubro — mais 0,1 pontos percentuais do que em setembro. No conjunto dos 27 Estados-Membros, o índice manteve-se nos 6%, mas o número absoluto é preocupante: mais de 13 milhões de pessoas estão atualmente sem emprego.

Entre estes, destaca-se um grupo que deveria ser motor de inovação e crescimento: os jovens. A taxa de desemprego jovem permanece elevada e estrutural, refletindo fragilidades que atravessam ciclos económicos e que comprometem o futuro da coesão social europeia. Num continente envelhecido, não investir nesta faixa etária é desperdício e risco.

O aumento simultâneo de inflação e desemprego é uma combinação particularmente sensível. Os economistas chamam-lhe, por vezes, “dupla ameaça”, porque retira poder de compra às famílias ao mesmo tempo que restringe a capacidade dos Estados de apoiar a economia sem gerar novos desequilíbrios.

A União Europeia encontra-se, assim, diante de uma encruzilhada. Entre pressões externas — guerras, instabilidade energética, tensões geopolíticas — e vulnerabilidades internas — estagnação industrial, desigualdades regionais, fragilidade do mercado de trabalho — o desafio será reencontrar um equilíbrio que devolva confiança aos cidadãos.

A história ensina-nos que momentos de incerteza exigem lucidez, coragem e cooperação. Como lembra o economista britânico John Maynard Keynes, “o verdadeiro desafio da economia não é prever o futuro, é preparar-nos para ele”. E hoje, mais do que nunca, a Europa precisa de se preparar.

Fontes e leituras recomendadas:

Eurostat – https://ec.europa.eu/eurostat
Banco Central Europeu – https://www.ecb.europa.eu
Euronews Economy – https://www.euronews.com/business
Financial Times EU Economy – https://www.ft.com/eu-economy