"Mandaram-me uma fotografia para verificar se aquela era a assinatura ou não. Obviamente que não era. Se eu não estive lá, não podia ser e os serviços da Assembleia perceberam que, de facto, alguém assinou por mim. Acredito que o resto vocês saibam, porque isto é uma situação extremamente grave e é grave porque imagine que eu estaria lá como estando presente, no futuro alguém podia fazer, por exemplo, uma denúncia de haver uma presença indevida e eu ser prejudicada e vista como alguém que, se calhar, tentou cometer uma fraude quando eu, felizmente neste caso, não tenho nada a ver com sucedido", disse a deputada socialista à TSF.
Eva Cruzeiro teve a sua assinatura falseada na reunião desta quarta-feira da Comissão de Assuntos Constitucionais, surgindo no livro de presença o nome "Evita Perón" no espaço que está destinado à sua assinatura.
A deputada socialista recusa levantar suspeitas sobre quem adulterou a assinatura e confessa-se surpreendida por algo do género acontecer na Assembleia da República.
"Na verdade, gostaria que tivesse aparecido lá a assinatura milagrosamente, porque devo-lhe confessar que nunca pensei que no espaço em que nós estamos, dentro do Parlamento, a Assembleia da República, algo semelhante a isto pudesse acontecer, então eu não consigo sequer levantar suspeitas sobre ninguém, porque é tão grave, tão grave, tão grave que, na minha imaginação, isto nem sequer seria uma possibilidade. Quanto mais estar já aqui a tentar levantar suspeitas sobre alguém. Não tenho suspeitas sobre ninguém, nem quero que ninguém se ponha a fazer este tipo de afirmações, porque estamos perante uma coisa muito grave", afirma.
Eva Cruzeiro ainda não sabe que medida vai tomar depois do sucedido, mas diz que o presidente da Assembleia da República não deve ficar calado: "Eu, se fosse a presidente da Assembleia da República, eu acho que agia, porque, assim numa primeira impressão, parece-me algo muito grave. Não sei se sinto isto por me envolver a mim, mas acredito que eu teria a mesma opinião se fosse com outra pessoa. Então, no lugar dele, eu acho que eu reagiria. Agora, eu não sei qual é o procedimento neste tipo de situações, nem sei se isto já aconteceu alguma vez aqui na Assembleia. Então também pode ser prematuro estar aqui a dar uma opinião sobre o que ele devia fazer, porque eu confesso que não sei quais são os procedimentos neste tipo de situação."
Antes do mais Eva Cruzeiro deveria estar bem orgulhosa pois ser Eva Perón nao é para toda a gente!
Eva Perón, o idolo ainda hoje de uma imensa parte da Argentina amada como Evita, foi uma política, atriz e filantropa argentina que foi primeira-dama da Argentina de junho de 1946 até sua morte em julho de 1952, por ser a esposa do presidente argentino Juan Domingo Perón.
De uma origem pobre total ascendeu ao mais absoluto resplendor pessoal e político da vida tudo em apenas 7 anos até à sua morte.
Foi uma das mulheres mais importantes e poderosas do mundo e a sua existência breve pois morreu aos 33 anos de idade envolve muitos mistérios, muitos factos obscuros mas há principalmente uma personalidade tragicamente marcante.
"Figura chave de um regime ancorado no paternalismo e na demagogia, Evita resiste, no entanto, como uma imagem ao mesmo tempo alheia e superior ao mesmo. Mais do que uma estadista, mais do que um pivô ou um esteio sobre o qual o governo de Perón se apoia, Evita ganha voz própria porque ela encarnou em si uma série de ambições e de pretensões sociais. Sua transcendência está consubstanciada na sua fantástica ascensão sociopolítica. Uma bela mulher, que venceu na vida através dos mecanismos próprios a uma mulher, só poderia espelhar um sistema de poder centrado na sedução. É só através da sedução coletiva das massas, e do fascínio, da ascese que esta sedução acarreta, que pode firmar-se um regime deste tipo."
Em Buenos Aires viveu inicialmente com Juancito, o seu irmão que servia o exército na Capital e trabalhava como vendedor numa fábrica de sabão.
Levavam uma vida difícil, simples, entre as obrigações da sobrevivência e fins de semana em botecos.
Eva passava o dia a procura de trabalho em rádios, revistas e, principalmente, tentando cavar uma chance de trabalhar no teatro e no cinema.
Depois de passar fome, se submeter aos assédios de canastrões e cafajestes e suarentos do mundo artístico que lhe prometiam chances condicionadas a algumas horas nas camas vagabundas de pensões portenhas, Eva acabou por ter a primeira chance concreta no cinema, no filme Segundos Afuera.
Nesse filme, no qual teve um papelzinho secundário e obtido graças à intervenção de Emilio Kartulowicz, dono da revista Sintonía ela teve chance de mostrar ao mundo artístico argentino a total falta de talento para a carreira de atriz.
Na relação com este mundo que ela teve a grande chance: conhecer um coronel chamado Juan, o mesmo nome de seu pai, de seu irmão, da mãe, da sogra, da parteira e e da cidade que motivou o encontro do casal: San Juan.
Era o Coronel Juan Domingo Perón.
San Juan havia sido atingida por um terrível terremotol
O Coronel Perón, vice-presidente da República e Ministro da Guerra e Chefe da Secretaria de Trabalho e Previdência, organizou, no ginásio do Luna Park, em Buenos Aires, um evento artístico para angariar fundos para as vítimas do terremoto.
Eva, que nessa época já tinha um programa de rádio onde declamava versos, participava de rádio-novelas e falava sobre a biografia de mulheres famosas, foi ao evento acompanhada de uma amiga com quem dividia um quarto de pensão.
No evento Eva aproveitou-se de um ligeiro descuido de uma outra atriz principiante que se sentava ao lado do Coronel na primeira fila de cadeiras.
Ela precisou de se levantar e Eva sentou-se nesta poltrona, ao lado do vice-presidente.
Encantada e embevecida por ter ao seu lado aquele homem de 1,90 de altura, porte atlético, sorriso irresistível e envergando um uniforme militar branco impecavelmente passado, ficou com as mãos suando, trêmula, mas segura o bastante para dizer a ele a frase que provavelmente tenha servido para mudar a história da Argentina pelos futuros 40 anos: "-Coronel, obrigada por existir".
Era 22 de janeiro de 1944.
Em 1945, durante a festa de comemoração de seus 50 anos, Perón, em companhia de Eva, Juancito, Domingo Mercante além de alguns poucos casais e amigos ouviu soar a campainha da porta de entrada de seu apartamento.
Já sem gravata e em mangas de camisa branca o coronel foi atender a porta e viu o apartamento ser invadido pelo coronel Ávalos que, informou ao aniversariante, fria e formalmente, que não havia mais como o exército dar-lhe apoio político e que a indicação do amigo Nicolini para os Correios fora a gota dágua.
Poucos dias depois Perón foi preso por ordem de Edelmiro Farrel, então presidente provisório da República.
A revolta popular foi incontrolável e o presidente viu-se com uma batata quente nas mãos.
Fraco e adoentado, Farrel, vendo a temperatura política subir rapidamente resolveu trasladar Perón da prisão para o hospital militar em Buenos Aires onde ficou custodiado.
Dali Perón negociou e impôs condições para a própria libertação.
Político habilíssimo usou a prisão como fórmula de vitimização e de mobilização popular a seu favor. Eva, desesperada, mergulhou de cabeça numa campanha furiosa, desenfreada e descabelada pela libertação de Perón.
Dois dias depois e onze dias após a prisão, era possível ver de novo, na sacada do Palácio do Governo um vulto acenando para a multidão de dezenas de milhares de simpatizantes, sorriso nos lábios, os dois braços ao alto.
Era Perón.
Perón, um homem das planícies da Patagônia, um solitário que nunca deixava saber exatamente o que sentia, tinha uma personalidade peculiar e ambígua.
Sempre que sorria, conquistava pelo sorriso, mas o que lhe marcava a complexa personalidade era o olhar, o olhar do caçador de guanacos.
Animal típico da Patagônia, o guanaco exigia de seu caçador extrema habilidade em dissimular. Para fugir da cusparada venenosa o caçador precisava distrair o animal, fazer algum gesto ou movimento para desviar seu olhar.
Só assim seria possível abatê-lo. Como hábil caçador de guanacos, o coronel Perón ouviu a declaração encantada de Eva no Luna Park.
Só não sabia que também ela era uma caçadora proverbial de guanacos e naquele momento pactuou-se ali uma sociedade de ideias e interesses que os levou aos limites do poder, da glória, da riqueza e por fim, da ruína, da desmoralização mas jamais do esquecimento e da indiferença. Os nomes de Eva Perón, a Evita, e Juan Domingo Perón impregnaram-se de forma definitiva no imaginário do povo argentino.
“Mas nem Mussolini nem Hitler levaram a sua loucura auto-induzida ao ponto de tentarem publicamente usurpar o lugar de Deus. Perón tentou.(...) Foi nesse ponto que começou a divinização de Perón. Evita deu o tom: ‘Só há um Perón...Ele é um Deus para nós...Nosso sol, nosso ar, nossa vida.’ Um ministro de governo equiparou Perón a Cristo, Maomé e Buda, como fundador de uma grande doutrina religiosa! A máquina de propaganda começou a espalhar folhetos e alusões dessa espécie. Ao mesmo tempo, empreendia-se uma campanha para canonizar Evita. Em outubro de 1951, ela foi apresentada a uma multidão peronista como ‘Nossa Senhora da Esperança’ e o próprio Perón rematou a reunião, proclamando um novo feriado, o ‘Dia de Santa Evita’. Depois da morte de Evita, em 1952, a neurose deliberada se agravou. Um porta-voz peronista, falando da sacada do palácio do governo, dirigiu-se a ela como ‘mãe nossa que estais no céu’. Exibiu-se um filme intitulado Evita imortal e a revista Mundo Peronista divulgou na capa uma Evita santificada, a quem não faltava a auréola.”
Por causa da personalidade arrebatada e por ser uma defensora incansável dos pobres, miseráveis e explorados Eva muitas vezes foi confundida como sendo uma militante de esquerda , embora nunca o tenha sido. Ela rejeitava ferrenhamente este rótulo, tendo inclusive muitas vezes se indisposto com os comunistas ortodoxos da Argentina, que viam na ação assistencialista até mesmo um fator de atraso nas conquistas da classe operária. O voto feminino, por exemplo, reivindicação histórica das mulheres comunistas argentinas, foi implantado por um golpe de voluntarismo de Evita.