Portugal, um país que se orgulha da sua hospitalidade e diversidade cultural, enfrenta um paradoxo preocupante: a incapacidade de gerir eficazmente o fluxo crescente de imigrantes que procuram regularizar a sua situação legal.

As longas filas à porta da Agência para a Imigração e Mobilidade (AIMA) tornaram-se um símbolo de frustração e desespero para milhares de pessoas que esperam horas, dias ou até semanas para tratar das suas papeladas. Este cenário, mais próprio de países em vias de desenvolvimento, levanta questões sérias sobre a eficiência e a justiça do sistema português.

As cenas diárias de filas intermináveis, muitas vezes começando antes do amanhecer, revelam uma realidade que contrasta profundamente com a imagem moderna e progressista que Portugal tenta projetar. Muitos imigrantes, alguns acompanhados de crianças pequenas ou pessoas idosas, são obrigados a aguardar em condições que comprometem a sua dignidade e segurança. A falta de organização e de um sistema digital eficiente exacerba este problema, forçando as pessoas a competir por vagas limitadas e a enfrentarem um processo burocrático lento e desgastante.

É inevitável a comparação com países onde a burocracia, embora complicada, é eficaz e adaptada à realidade do século XXI. Em contraste, a situação na AIMA parece retirada de uma época onde a tecnologia e a inovação ainda não tinham tocado a esfera da administração pública. Como escreveu o economista Milton Friedman, "A burocracia destrói a iniciativa. Não há nada que um burocrata goste mais do que multiplicar as regras e os regulamentos". Este retrato de Portugal, como um país atolado em processos arcaicos, não é apenas um embaraço nacional, mas uma falha moral no tratamento de indivíduos que procuram apenas contribuir para a sociedade portuguesa.

A situação é tão grave que já não se trata apenas de uma questão de ineficiência administrativa, mas de uma violação dos direitos humanos fundamentais. Como é possível que num país da União Europeia, no século XXI, ainda existam práticas que obrigam as pessoas a sofrer em filas intermináveis para aceder a serviços básicos? 

Portugal, ao não conseguir acompanhar o ritmo das mudanças sociais e económicas, coloca-se ao nível de nações que lutam para garantir o mínimo de dignidade aos seus cidadãos.

O que se exige, agora, é uma mudança radical no sistema de gestão da imigração em Portugal. A implementação de soluções tecnológicas, a reorganização dos processos administrativos e o reforço dos recursos humanos na AIMA são passos fundamentais para ultrapassar esta crise. No entanto, a verdadeira mudança só acontecerá quando houver um compromisso genuíno de tratar todos os indivíduos com o respeito e a dignidade que merecem.

Portugal, que tantas vezes é citado como um exemplo de integração e tolerância, não pode permitir que a burocracia desatualizada mancha a sua reputação. A hora é de ação, e não de complacência. 

O futuro de milhares de imigrantes – e a própria imagem do país – depende da capacidade de Portugal de reformar este sistema falido e de adotar práticas dignas de uma nação moderna e desenvolvida. Como afirmou o filósofo Edmund Burke, "Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados". 

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