As cenas diárias de filas intermináveis, muitas vezes começando antes do amanhecer, revelam uma realidade que contrasta profundamente com a imagem moderna e progressista que Portugal tenta projetar. Muitos imigrantes, alguns acompanhados de crianças pequenas ou pessoas idosas, são obrigados a aguardar em condições que comprometem a sua dignidade e segurança. A falta de organização e de um sistema digital eficiente exacerba este problema, forçando as pessoas a competir por vagas limitadas e a enfrentarem um processo burocrático lento e desgastante.
É inevitável a comparação com países onde a burocracia, embora complicada, é eficaz e adaptada à realidade do século XXI. Em contraste, a situação na AIMA parece retirada de uma época onde a tecnologia e a inovação ainda não tinham tocado a esfera da administração pública. Como escreveu o economista Milton Friedman, "A burocracia destrói a iniciativa. Não há nada que um burocrata goste mais do que multiplicar as regras e os regulamentos". Este retrato de Portugal, como um país atolado em processos arcaicos, não é apenas um embaraço nacional, mas uma falha moral no tratamento de indivíduos que procuram apenas contribuir para a sociedade portuguesa.
Portugal, ao não conseguir acompanhar o ritmo das mudanças sociais e económicas, coloca-se ao nível de nações que lutam para garantir o mínimo de dignidade aos seus cidadãos.
O que se exige, agora, é uma mudança radical no sistema de gestão da imigração em Portugal. A implementação de soluções tecnológicas, a reorganização dos processos administrativos e o reforço dos recursos humanos na AIMA são passos fundamentais para ultrapassar esta crise. No entanto, a verdadeira mudança só acontecerá quando houver um compromisso genuíno de tratar todos os indivíduos com o respeito e a dignidade que merecem.
O futuro de milhares de imigrantes – e a própria imagem do país – depende da capacidade de Portugal de reformar este sistema falido e de adotar práticas dignas de uma nação moderna e desenvolvida. Como afirmou o filósofo Edmund Burke, "Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados".