Este Verão foi inventada uma nova forma de travar conhecimento com desconhecidos, que envolve ter um ananás colocado com a coroa para baixo, dentro do carrinho de compras, procurar outra pessoa com o mesmo adereço e chocar com os carros. Fica assim manifesta a vontade de ter uma ligação. Há um horário pré-definido, os encontros só acontecem entre as 19h e as 20h e limitam-se à secção dos vinhos.
Pessoalmente, teria feito uma forte recomendação para a obrigatoriedade de comprar o fruto, fosse qual fosse o resultado da experiência
Há fotos, skits, sketches, montagens, videovigilância, áudio, publicações... toda uma gigantesca pegada digital que documenta o fenómeno. O mais divertido é de uma despedida de solteiro em que o noivo cavalga um carrinho de compras vestido de ananás enquanto os amigos o empurram, com pompa e circunstância, pelos corredores do supermercado.
O Mercadona, não reagiu oficialmente e é pouco provável que se trate de uma campanha de marketing, mas houve lojas a reduzir o estoque de ananás a meia-dúzia de unidades, escondidas numa caixa ao nível do chão, ou mesmo a eliminar o artigo da sua oferta frutífera enquanto esperam que passe a moda. Só que, também neste caso, a criatividade humana veio ao resgate e de pronto houve quem se lembrasse de usar pacotes de sumo, pilhas de iogurtes ou mesmo um melão (que por dentro se sentia abacaxi).
Uma pesquisa rápida dir-nos-á tudo o que queremos saber sobre o este fruto. No entanto, ao debruçar-me sobre o assunto encontrei referências, no passado recente, que associam o ananás ao grupo conhecido como swingers. Isso sim, foi novidade.
Quem ainda não recebeu convites de apps de encontros, inadvertidamente enviadas por amigos, que não perceberam que ao premir “ACEITAR”, toda a sua lista de contactos seria notificada? É um rito de passagem da atual geração de recém-solteiros, na sua tentativa, com variados graus de sucesso, de decifrar os novos códigos e comportamentos de quem procura companhia, a curto e a longo prazo.
Na era do imediato e da conveniência, claro que as aplicações desempenham um papel significativo, oferecendo segurança na distância do ecrã táctil. São ferramentas que padronizam o comportamento humano, diluindo e destilando o ego, mas os resultados são inegáveis e reafirmam a relação direta entre a sua utilidade e benefícios. Também entre o seu abuso e malefícios.
Atrai-me mais o tiro no escuro, do que ter uma ideia pré-concebida sobre alguém que acabo de conhecer.
A importância das primeiras impressões é serem únicas, puramente guiadas por instinto e pelas circunstâncias que ditam o momento e acabam por ser, em muitos casos, a pedra angular de qualquer relação, seja profissional, amigável ou amorosa. Nesta perspetiva, uma atividade que promova o contacto direto e sensorial, será preferível.
Especialmente numa era em que a tecnologia digital premeia todos os aspetos da sociedade, é importante criar momentos de real interação. Passear um ananás no supermercado tem o potencial de uma ideia bem intencionada, tão válida como serões de speed-dating, festas de swingers, convidar alguém para dançar ou meter conversa com a única pessoa com quem partilhamos o vagão-bar. Às vezes é boa ideia, às vezes...
Somos todos surpresas ambulantes e aprender a relacionarmo-nos apesar de imprevistos ou de diferenças, é essencial para podermos ser pessoas melhores uns para os outros.
Aqui deixo uma recomendação, um conselho, quase panaceia, funciona com relacionamentos e carrinhos de compras, particularmente na secção de vinhos do Mercadona.
Devagar, para não bater.
Assim, independentemente do que nos leva a procurar companhia, amor ou mero prazer, poderemos sempre reconhecer a oportunidade para estarmos presentes e ser mais atenciosos, o que vai muito além do mero ato egocêntrico.
Assim como o simples gesto de empurrar um carrinho de compras com um ananás virado ao contrário pode desencadear uma nova conexão, também o apoio ao jornalismo independente cria laços que fortalecem a nossa sociedade.
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Miguel Reigo