Uma Cadeira Escaldante (?)

A sucessão no PS, a derrota de 2025 e o risco de um partido sem rumo nem debate

O Partido Socialista está morto ou moribundo? A resposta é, claramente, não. O PS, com as suas raízes profundas na sociedade portuguesa e na história democrática do país, ainda tem vida pela frente. No entanto, a forma como o partido reagir à pesada derrota de 2025 ditará a sua vitalidade nos próximos anos.

O grande desafio será escolher entre três caminhos:

1.Ceder à tentação do imobilismo;

2.Negociar desregradamente em busca de sobrevivência a qualquer custo;

3.Ou encontrar um equilíbrio responsável entre negociação, compromisso e firmeza na luta política, onde ela se impõe — como, por exemplo, a denúncia firme e clara do fascismo e da sua herança em Portugal.

Pedro Nuno Santos foi o rosto de uma derrota que não foi apenas sua. Pagou a factura de oito anos de governação de António Costa e da incapacidade da estrutura dirigente do PS em assumir responsabilidades coletivas. Foi deixado sozinho na linha da frente.

A demissão e o silêncio orquestrado

Lamentamos a sua demissão. Tal como lamentamos o que se configura como uma fuga para a frente da atual casta dominante do PS: bloquear o debate interno e avançar com um único candidato à liderança — José Luís Carneiro.

Não o consideramos um homem de Direita. Mas sim pertencente à ala direita da Esquerda da ala direita do PS. E isso diz muito sobre a orientação política que se pretende impor sem discussão interna.

A fragilidade atual à luz da história

Convém lembrar que esta não é a primeira vez que o PS enfrenta um momento de grande fragilidade. Em 1985, o partido teve o seu pior resultado eleitoral até então, com 1.204.321 votos. E, no entanto, no ano seguinte, Mário Soares viria a vencer as eleições presidenciais de 1986.

Mas hoje o contexto é outro. O PCP já não tem o peso eleitoral que tinha. E a UDP, que em 1985 teve 73.401 votos, comparava-se então com 119.211 em eleições anteriores — um sinal de vitalidade à esquerda que hoje parece ausente.

📊 Comparativo de Resultados Eleitorais do PS

Eleições Legislativas – PS:

2019: 1.903.687 votos

2022: 2.301.887 votos

2024: 1.812.443 votos

2025: 1.394.501 votos

Eleições Legislativas – 1985 (para comparação):

PSD (início do cavaquismo): 1.732.288 votos

PS: 1.204.321 votos

PRD: 1.038.893 votos

APU/PCP: 898.281 votos

UDP: 73.401 votos

O que está em jogo?

Dificilmente veremos em breve um novo “milagre de 1986”.  As próximas eleições autárquicas exigirão mais do que resiliência: exigirão coragem, abertura ao debate, renovação verdadeira — e uma liderança que represente mais do que a continuidade do status quo. A história mostra que o PS já caiu e já se levantou. Mas nunca o fez calando as vozes internas.