Drummond de Andrade volta para Belo Horizonte e emprega-se como redator no Diário de Minas.
Em 1928, Drummond publicou o poema No Meio do Caminho, na “Revista de Antropofagia” de São Paulo, provocando escândalo com esse poema que não seria para uns tantos poesia e sim uma provocação pela repetição do poema, como também pelo uso de "tinha uma pedra" em lugar de "havia uma pedra":
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Em 1930, seguindo a Segunda Geração Modernista, Drummond publicou seu primeiro livro intitulado Alguma Poesia, mostrando a sua ironia e humor abrindo o livro com o Poema de Sete Faces, um dos seus poemas mais conhecidos.
Em 1934, Carlos Drummond lançou seu segundo livro Brejo das Almas, onde abandona o descritivismo e acentua o humor e a ironia nos seus versos, como no poema Política Literária dedicado a Manuel Bandeira
Política Literária
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
Em 1940, Drummond publicou Sentimento do Mundo pois a destruição provocada pela Guerra Mundial, o leva a expressar um desejo intenso de reconstruir o mundo.
Em 1942, ano em que o Brasil entrou na Segunda Guerra, ele publicou o livro José, que inclui o poema do mesmo nome, mostrando a figura anônima de um personagem que vive em um contexto burocrático:
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José? (...)
Em 1945, Drummond publicou o livro de poemas A Rosa do Povo onde condena a vida mecanizada e desumana defende um mundo pautado na justiça que venha substituir a falta de solidariedade.
A poesia de caráter social assume então uma dimensão com temas como a angústia dos seres escravos do progresso, o medo, o tédio e a solidão do homem moderno.
A Rosa do Povo
Uma flor nasce na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Com a publicação de Claro Enigma, em 1951, a sua criação poética segue duas orientações: de um lado a poesia reflexiva, filosófica e metafísica, com os temas da morte e do tempo e, de outro lado, a poesia nominal, com tendências ao Concretismo, em que ressalta a preocupação com recursos fônicos, visuais e gráficos do texto.
Em Lição de Coisas (1962), o poeta é tomado pela poesia nominal, muito próxima da filosófica, onde o verso e a palavra são desintegrados via neologismos, alienações e rupturas sintáticas que se aproximam do Concretismo,
O árvore a mar
o doce de pássaro
a passa de pêsame
o cio da poesia
a força do destino
A pátria a saciedade
o cudelume Ulalume
o zumzum de Zeus
o bômbix
o ptys
A produção poética de Drummond de Andrade nas décadas de 70 e 80 dão um amplo destaque ao universo da memória, a infância, Itabira, o pai, a família como sucede nas obras Menino Antigo, As Impurezas do Branco, Amor Amores, Corpo, A Paixão Medida e outras.
Carlos Drummond de Andrade foi também cronista, contista e tradutor crescentemente comprometido com a realidade social.
Em 1942 publicou o livro de prosa Confissão de Minas
Em 1950, Drummond estreou como ficcionista com a obra Contos de Aprendiz.
Desde 1954, Drummond colaborava como cronista no "Correio da Manhã" e, a partir do início de 1969, passou a escrever para o "Jornal do Brasil".
Em 1967, para comemorar os 40 anos do poema No Meio do Caminho, Drummond reuniu extenso material publicado sobre ele, e publicou Uma Pedra no Meio do Caminho - Biografia de um Poema.
Foi também tradutor de autores como Balzac, Garcia Lorca e Molière
A riqueza de sua obra foi descoberta também pelo cinema e argumentos de filmes foram tirados de seus poemas, como O Padre e a Moça, do cineasta Joaquim Pedro de Andrade.
A música popular brasileira adaptou vários de seus versos para a melodia, como o poema José, gravado por Paulo Diniz.
O poema Canção Amiga foi musicado por Milton Nascimento no disco Clube da Esquina 2 em 1978.
Os versos de Sonho de um Sonho foram tema enredo de escola de samba, adaptados por Martinho da Vila.
Obras de Carlos Drummond
Poesias
* Alguma Poesia (1930)
* Brejo das Almas (1934)
* Sentimento do Mundo (1940)
* Poesias (1942)
* A Rosa do Povo (1945)
* Poesia até Agora (1948)
* Claro Enigma (1951)
* Viola de Bolso (1952)
* Fazendeiro do Ar & Poesia Até Agora (1953)
* Poemas (1959)
* A Vida Passada a Limpo (1959)
* Lições de Coisas (1962)
* Boitempo (1968)
* Menino Antigo (1973)
* As Impurezas do Branco (1973)
* Discurso da Primavera e Outras Sombras (1978)
* O Corpo (1984)
* Amar se Aprende Amando (1985)
Prosas
* Confissões de Minas (1942)
* Contos de Aprendiz (1951)
* Passeios na Ilha (1952)
* Cadeira de Balanço (1970)
* Moça Deitada na Grama (1987)
E deixamos para o fim esta Balada do Amor através das Idades
Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigámos, morremos.
Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.
Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.
Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira...
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.
Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.
Carlos Drummond de Andrade
Pois é, eis o século XXI !!!
E claro, o E Agora José?