Num vídeo recentemente divulgado, com forte carga retórica e tom dramático, é apresentada a hipótese de a China lançar uma ofensiva económica devastadora contra os Estados Unidos: a venda dos seus 784 mil milhões de dólares em títulos do Tesouro norte-americano.

Esta ameaça, apelidada de “cheque-mate financeiro”, não é nova no debate geopolítico, mas ganha novos contornos num momento de tensão crescente entre as duas potências.

O que são títulos do Tesouro e porque são tão importantes?

Os títulos do Tesouro dos EUA são instrumentos financeiros usados pelo governo norte-americano para se financiar. São, na prática, uma forma de dívida pública — o Estado emite “IOUs” (promessas de pagamento) em troca de dinheiro imediato. A China, como uma das maiores economias do mundo, tem vindo a acumular estes títulos, tornando-se um dos principais credores dos EUA (a par do Japão).

A ameaça: realidade ou bluff geopolítico?

De acordo com o vídeo, a China considera vender estes títulos de forma massiva, o que provocaria três efeitos imediatos:

  1. Desvalorização dos próprios títulos, devido ao excesso de oferta no mercado.

  2. Aumento das taxas de juro que os EUA teriam de pagar para atrair novos investidores.

  3. Risco de recessão interna nos EUA, dado que o país vive sustentado por crédito (empréstimos, hipotecas, consumo interno).

A ação chinesa, neste cenário, seria uma jogada de alto risco — e com perdas potenciais para ambas as partes. Mas o vídeo sugere que, em nome da estratégia global e da liderança dos BRICS, Pequim estaria disposta a sacrificar parte dos seus ativos para alterar o equilíbrio de poder.

Trump e a guerra comercial: o rastilho do conflito

O discurso apresentado associa diretamente esta ameaça à política comercial agressiva de Donald Trump. Entre tarifas sucessivamente aumentadas (de 20% até 145%) e a retórica de confronto, o ex-presidente poderá ter alimentado o conflito ao ponto de transformar a China de parceiro estratégico em adversário declarado.

Em resposta, Pequim terá:

  • Reduzido exportações de minerais críticos para os EUA;

  • Fortalecido alianças com Japão, Coreia do Sul e países europeus;

  • Criado condições para uma alternativa global ao dólar, através da nova arquitetura financeira dos BRICS.

Realidade económica vs retórica política

Apesar do dramatismo, há que distinguir factos de especulações. A China tem, historicamente, gerido de forma prudente a sua carteira de ativos norte-americanos, precisamente porque uma queda abrupta no valor dos títulos seria também prejudicial para si.

Contudo, o facto de a ameaça ter sido proferida publicamente — mesmo que como instrumento de pressão — já teve impacto nos mercados:

  • O índice do dólar caiu;

  • O NASDAQ e o Dow Jones registaram perdas significativas;

  • A taxa de juro das obrigações a 10 anos subiu para níveis não vistos desde 2007.

O que está realmente em jogo?

Esta crise transcende Donald Trump ou Xi Jinping. Está em causa o modelo económico baseado na hegemonia do dólar como moeda de reserva mundial. A China, ao diversificar a sua economia e ao reforçar o sistema bancário alternativo dos BRICS, poderá estar a preparar o terreno para uma nova ordem financeira multipolar.

 

Conclusão: xadrez financeiro em tempo real

O mundo assiste a um jogo perigoso, onde a economia, a geopolítica e a comunicação de massas se entrelaçam. Independentemente de a China avançar ou não com a venda em massa dos títulos, o simples facto de colocar essa carta na mesa revela uma transformação profunda nas dinâmicas de poder globais.

Enquanto isso, Trump, agora novamente em destaque político, enfrenta o dilema de ter criado um inimigo que detém a arma mais poderosa: a dívida dos EUA.

 

📬 Gostou desta análise? Subscreva o jornal para mais artigos como este em:
👉 https://www.estrategizando.pt/assinatura