A experiência histórica mostra-nos que sempre que se afasta da sua matriz ideológica e da sua base social de apoio o PCP treme e entra em crise e quando se atém aos princípios do marxismo-leninismo se afirma e cresce.
Logo após a sua fundação o Partido sob a direção de Carlos Rates, um dirigente que defendeu a venda das colónias africanas para financiar o desenvolvimento na metrópole em oposição declarada à política leninista anticolonialista da III Internacional, o Partido tergiversou afundando-se numa política de alianças com a burguesia que o enfraqueceu. Rates acabou expulso em 1925 e acabou por aderir à União Nacional de Salazar. Com a ascensão de Bento Gonçalves o PCP, reorganizou-se de acordo com princípios marxistas-leninistas e apesar da repressão, consolidou a sua implantação junto da classe operária, cresceu. Após a prisão de Bento Gonçalves em 1935 seguida da de outros dirigentes, o PCP entra em nova deriva e é suspenso da Internacional Comunista. Segue-se uma segunda reorganização da qual emerge como dirigente Álvaro Cunhal. De novo um enraizamento na classe operária permite ao PCP estender a sua influência, lançar organizações frentistas com a oposição não comunista, apoiar os movimentos de libertação africanos, sustentar a fundação da Intersindical e inclusivamente avançar para a luta armada. Assim fortalecido o PCP tornou-se uma influência decisiva no movimento operário e social, uma influência importante nos capitães de Abril e na Revolução.
Com a saída de Álvaro Cunhal abriu-se um novo período marcado por alguma desorientação ideológica e organizativa. Desde 1992 o PCP teve três Secretários Gerais, Carlos Carvalhas, Jerónimo de Sousa e Paulo Raimundo. Nenhum deles deixa uma obra escrita de análise marxista sobre a sociedade portuguesa, apesar das múltiplas transformações sociais e políticas a que assistimos nestes anos.
Hoje o PCP enfrenta uma nova crise. Afastou-se, mas não completamente, da classe operária, e apoia-se exageradamente na pequena-burguesia intelectual (veja-se a composição das listas eleitorais para o parlamento e para as autarquias locais), distanciou-se do marxismo-leninismo (nos últimos comunicados do Comité Central desapareceram quase totalmente as palavras “classe operária”, “revolução”, “exploração”, “mais-valia”, “proletariado”, palavras que fazem parte do léxico da ideologia marxista, ou referências a Karl Marx, Lenine ou outros iminentes teóricos do marxismo-leninismo).
Sem estrutura ideológica sólida, afastando-se da sua base social – a classe operária -, o PCP tem vindo a isolar-se na sociedade portuguesa. Atacado pelos principais conglomerados de comunicação social, que não lhe dão voz e que deturpam propositadamente as suas posições, o PCP, não tem conseguido manter as suas posições, continuando num processo de recuo. Perante uma pressão ideológica forte não tem produzido as respostas necessárias.
O maior distanciamento, mas não completo, em relação à realidade social leva-o para posições difíceis de argumentar como a defesa, leia-se manutenção do que está, do Serviço Nacional de Saúde (que tão mal está que não pode ser defendido apenas se pode exigir a sua refundação ou renascimento) ou a defesa acrítica da Escola Pública (que é a principal difusora da ideologia dominante que sufoca o próprio PCP), ou ainda, como o fez Jerónimo de Sousa, recusar realidades sociais como o racismo, que precisa ser combatido e não negado.
Como pode o PCP sair do declínio acelerado das últimas décadas? Várias alternativas se colocam, mas a mais óbvia e mais premente é a de uma terceira reorganização que o ancore mais firmemente como partido marxista-leninista e o reimplante no seio do proletariado (que ao contrário do alguns defendem não desapareceu da sociedade portuguesa). Acredito que ainda existem forças suficientes para levar a cabo esta nova reorganização. Pode levar mais ou menos tempo mas ela vai acontecer. Porque é inevitável. Assim foi no passado.
A ideia comunista de uma sociedade fraterna e sem classes não morreu. Os seus fundamentos ideológicos continuam inabaláveis. Quem a defenda essa nova sociedade sempre se organizará. Aliás alguns passos já tem sido dados pelo PCP na direção certa. O PCP mesmo sem representação parlamentar continuará.
Em conclusão dos três partido da Esquerda a crise do PCP é a única conjuntural, que pode ser ultrapassada com maior ou menor dificuldade, enquanto as crise de PS e Bloco são estruturais por que se dirigem aos fundamentos políticos dessas formações.