As suas fotografias não eram apenas imagens. Eram gestos de memória. Eram consciência.

Partiu Eduardo Gageiro. E com ele vai um pedaço da nossa memória colectiva — aquela que só se guarda quando é feita de verdade, coragem e luz.

Nascido em Sacavém, a 16 de Fevereiro de 1935, começou a trabalhar com apenas 12 anos na Fábrica de Loiça, onde cresceu rodeado de artistas e operários. Foi ali, no convívio com pintores e escultores, que nasceu o olhar que viria a transformar-se numa das lentes mais marcantes da fotografia portuguesa.

Gageiro não se limitava a registar o mundo — mostrava-nos aquilo que não queríamos (ou não podíamos) ver.
Fez isso durante os tempos sombrios da ditadura. E fê-lo também no dia 25 de Abril de 1974, quando captou o momento em que Salgueiro Maia conteve as lágrimas, percebendo que a revolução tinha triunfado. Essa imagem tornou-se símbolo — e selo.

Arriscou. Denunciou. Exigiu. Sempre com respeito, humanidade e um profundo sentido de justiça. Fotografou os poderosos e os esquecidos com o mesmo olhar atento. Com o mesmo compromisso com a verdade.

Nos últimos anos, com o apoio do neto, organizou o seu espólio, agora confiado ao Município de Torres Vedras. A sua última exposição — “Pela Lente da Liberdade” — foi inaugurada no dia 25 de Abril de 2025, com a sua presença serena e lúcida.

Faleceu a 4 de Junho de 2025, em Lisboa, aos 90 anos.
O funeral realizou-se no cemitério de Sacavém, a sua terra, onde tudo começou, rodeado pela sua família — filhos, nora e neto.

Ficam as imagens. Fica o exemplo. Fica a memória. Fica, sobretudo, o olhar.

O olhar que nos deu a ver Portugal.

🖤 Um abraço apertado à sua família.