Guimarães recebe, a partir de 17 de maio, um novo ciclo de exposições no CIAJG, onde a arte se transforma num espaço vivo de reflexão, interrogação e descoberta.

No epicentro desta programação estão dois grandes destaques: a exposição “INTERVALO”, do artista Alexandre Estrela, e a instalação fílmica da pintura “Inferno”, captada por Mariana Caló e Francisco Queimadela. Ambas as propostas mergulham nos limites da perceção, nas margens da história e na forma como representamos — ou fantasiamos — o real.

No piso térreo do museu, Alexandre Estrela, um dos nomes mais relevantes da arte contemporânea portuguesa, apresenta uma instalação imersiva que faz do CIAJG um organismo em mutação. “INTERVALO” é a segunda parte de uma exposição tripartida iniciada na Culturgest, e aqui torna-se um interlúdio especulativo entre desenho, vídeo e pintura. Através de dispositivos visuais que ecoam os primórdios da vida multicelular, a exposição revela-se como uma coreografia entre espectros digitais e esqueletos analógicos, onde o visitante se vê convocado a experienciar a galeria como um corpo em movimento. A curadoria está a cargo de Marta Mestre, com o apoio da RPAC e colaboração do MACE (Elvas) e da Culturgest (Lisboa).

Descendo ao piso -1, o visitante depara-se com um encontro singular entre arte, história e antropologia visual. A pintura “Inferno”, uma obra portuguesa do século XV-XVI de autor desconhecido, é apresentada em filme pela dupla de artistas Mariana Caló e Francisco Queimadela. Esta peça, pouco vista até à década de 1940, reúne elementos simbólicos e visuais marcadamente coloniais — como Lúcifer de cocar ameríndio e trono africano — remetendo para um imaginário infernal permeado por representações do “Outro” no contexto dos Descobrimentos. O vídeo que a documenta, com curadoria de Marta Mestre e João Terras, propõe uma “aparição” contemporânea dessa obra inquietante, revelando como a arte antiga continua a ecoar debates sobre poder, fé e representação.

O programa inaugural estende-se até domingo, 18 de maio — Dia Internacional dos Museus — com visitas comentadas, performances e um inusitado “PICNIC artístico” na coleção permanente. A performance “Mickey Mouth”, de Borja Caro e Violeta Azevedo, inaugura o ciclo no sábado, seguida de um jantar aberto ao público. No domingo, o próprio Alexandre Estrela conduzirá uma visita à sua exposição, e à tarde, Luísa Abreu e Polyanna Marinho orientam uma visita-piquenique interativa, onde arte e alimento se cruzam.

O CIAJG mantém-se assim fiel ao seu espírito provocador e pedagógico, abrindo portas ao pensamento crítico e sensível, e fazendo da arte uma lente sobre o passado e um espelho do presente.

As exposições podem ser visitadas até ao final do ciclo, com entrada gratuita aos domingos de manhã e para crianças até aos 12 anos. Toda a programação está disponível em www.ciajg.pt e www.aoficina.pt.


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Foto de destaque:
Alexandre Estrela Magnetic Field Prepared for Video, 2001-2022, 
Forgotten Sounds of Tomorrow, Bruno Múrias Gallery (2022) © Bruno Lopes