A missão deles é levar apoio e alimento aos palestinos, além de realizar um protesto dentro do território sitiado. A notícia ganhou as redes sociais do mundo e publicações de apoio ao seu gesto têm sido postadas com muita repercussão.

A ativista declarou que está cumprindo sua promessa de lutar contra o genocídio perpetrado pelo Estado de Israel contra o povo palestino. Por seu gesto, corre iminente perigo de vida, devido a um possível ataque das forças armadas israelenses, como aconteceu com o primeiro navio da “Coalizão Flotilha da Liberdade”, bombardeado por drones israelenses ainda em águas internacionais. Mesmo assim, declarou que ”o silêncio é mais perigoso do que navegar para Gaza”.

 

Dentre as inúmeras publicações a respeito desse fato, pescamos no Facebook um belo e comovente poema, do poeta e jornalista brasileiro, de origem paraense, Leal Kostav, e o republicamos aqui, como forma de apoiar a justa luta do povo palestino pela liberdade e pela sobrevivência. Cada gesto, cada palavra, cada artigo, cada crônica, cada poema que se publique, denunciando a carnificina dos novos nazistas do mundo é um pequeno alento, um sopro de esperança de paz para este sofrido e combativo povo. Estamos todos torcendo pelo sucesso de Greta e da pacífica missão da “Flotilha da Liberdade”. Que dessa vez tudo dê certo e que os bravos guerreiros que estão a bordo do “Madleen” cumpram a sua missão em paz e segurança.

 

 

 

GRETA E O CORAÇÃO DE GAZA

 

                                               Leal Kostav

 

Ela não é mais menina, mas ainda carrega nos olhos o susto das coisas maiores que o corpo.

Greta.

Nome curto como um sopro.

Mas quando ela fala, o ar inteiro para para escutá-la.

Agora, ela não grita. Navega.

Dizem que é protesto, que é política, que é ideologia.

Talvez seja.

Mas talvez seja apenas o modo como certas almas se recusam a aceitar o mundo como ele insiste em ser.

Ela vai.

Um navio no mar,

um corpo no risco,

uma promessa no vento.

Claramente, é perigoso. Mas talvez mais perigoso seja o silêncio.

Mais perigoso seja permitir-se a segurança de quem não quer ver.

Greta vai.

Ela não conhece Gaza com os pés, ainda.

Mas talvez a conheça com o coração,

com aquele órgão que, quando sangra de compaixão, torna-se bússola.

Ela não leva armas, leva intenção.

Ajuda humanitária.

Mas o que pode um barco contra foguetes?

E, no entanto, ela vai.

Ela carrega no peito um protesto tão antigo quanto a humanidade: o de que o sofrimento de um é o sofrimento de todos.

Há quem diga que ela está errada.

Há quem diga que ela deveria ficar quieta.

E há quem diga que ela é corajosa demais.

Greta não responde. Vai.

Liam, o ator, também vai.

Outros também.

Mas o que se vê é ela,

menina que se fez símbolo,

e agora quer ser presença.

Ela sabe que pode não voltar.

Mas há viagens que se fazem não para voltar,

para lembrar que é possível ir.

O mar, por enquanto, é azul.

Há olhos vigiando de longe.

Há drones, há cercos, há medos —

e há também o gesto.

E quando um gesto acontece,

há uma dobra no tempo.

Por um instante, Gaza não é só sofrimento:

é também o lugar para onde vai quem ainda acredita na humanidade.

Greta não salva ninguém sozinha.

Mas talvez salve algo dentro de nós.

A lembrança de que é possível não calar.

E o mar, silencioso, agradece por ser caminho.