Dentre as inúmeras publicações a respeito desse fato, pescamos no Facebook um belo e comovente poema, do poeta e jornalista brasileiro, de origem paraense, Leal Kostav, e o republicamos aqui, como forma de apoiar a justa luta do povo palestino pela liberdade e pela sobrevivência. Cada gesto, cada palavra, cada artigo, cada crônica, cada poema que se publique, denunciando a carnificina dos novos nazistas do mundo é um pequeno alento, um sopro de esperança de paz para este sofrido e combativo povo. Estamos todos torcendo pelo sucesso de Greta e da pacífica missão da “Flotilha da Liberdade”. Que dessa vez tudo dê certo e que os bravos guerreiros que estão a bordo do “Madleen” cumpram a sua missão em paz e segurança.
GRETA E O CORAÇÃO DE GAZA
Leal Kostav
Ela não é mais menina, mas ainda carrega nos olhos o susto das coisas maiores que o corpo.
Greta.
Nome curto como um sopro.
Mas quando ela fala, o ar inteiro para para escutá-la.
Agora, ela não grita. Navega.
Dizem que é protesto, que é política, que é ideologia.
Talvez seja.
Mas talvez seja apenas o modo como certas almas se recusam a aceitar o mundo como ele insiste em ser.
Ela vai.
Um navio no mar,
um corpo no risco,
uma promessa no vento.
Claramente, é perigoso. Mas talvez mais perigoso seja o silêncio.
Mais perigoso seja permitir-se a segurança de quem não quer ver.
Greta vai.
Ela não conhece Gaza com os pés, ainda.
Mas talvez a conheça com o coração,
com aquele órgão que, quando sangra de compaixão, torna-se bússola.
Ela não leva armas, leva intenção.
Ajuda humanitária.
Mas o que pode um barco contra foguetes?
E, no entanto, ela vai.
Ela carrega no peito um protesto tão antigo quanto a humanidade: o de que o sofrimento de um é o sofrimento de todos.
Há quem diga que ela está errada.
Há quem diga que ela deveria ficar quieta.
E há quem diga que ela é corajosa demais.
Greta não responde. Vai.
Liam, o ator, também vai.
Outros também.
Mas o que se vê é ela,
menina que se fez símbolo,
e agora quer ser presença.
Ela sabe que pode não voltar.
Mas há viagens que se fazem não para voltar,
para lembrar que é possível ir.
O mar, por enquanto, é azul.
Há olhos vigiando de longe.
Há drones, há cercos, há medos —
e há também o gesto.
E quando um gesto acontece,
há uma dobra no tempo.
Por um instante, Gaza não é só sofrimento:
é também o lugar para onde vai quem ainda acredita na humanidade.
Greta não salva ninguém sozinha.
Mas talvez salve algo dentro de nós.
A lembrança de que é possível não calar.
E o mar, silencioso, agradece por ser caminho.