Mário Viegas, naquela época, não era ainda o nome que viria a ser inscrito no panteão dos grandes artistas portugueses, mas já se destacava como o intérprete exímio de poemas que, com sua voz, transformavam-se em dardos apontados ao coração do regime opressor. Num tempo em que a palavra falada se revestia de um poder revolucionário, Mário emergia como um diseur, um portador da verdade que se esquivava das sombras para brilhar numa luz própria.
No Dia do Antigo Combatente, evoco a figura de Mário Viegas para lembrar não apenas os que lutaram nos campos de batalha distantes, mas também aqueles que, como ele, combateram uma guerra de ideias, armados com a poesia e o teatro, contra a opressão da ditadura salazarista. Foi uma época em que muitos, discordando da Guerra Colonial, foram silenciados, presos ou forçados ao exílio. Muitos desertaram, enquanto outros poucos conseguiram manter-se incólumes até à Revolução dos Cravos.
Hoje, quando observamos a tendência de alguns meios de comunicação em perpetuar uma cultura de glorificação bélica, sob pretexto de defender valores ou territórios, a memória de Mário Viegas surge como um farol de resistência. A sua arte, empregada na luta contra a guerra e pela afirmação dos valores mais nobres da humanidade, continua a inspirar e a desafiar.
O seu repúdio pela guerra, expresso em performances memoráveis, onde a sua voz dava vida às palavras de grandes poetas, é um testemunho pungente da sua batalha contra a indiferença e o esquecimento. Conforme reportado pelo portal Ensina da RTP, Mário Viegas opunha-se fervorosamente à guerra, utilizando a sua arte como uma arma contra a violência e o autoritarismo, promovendo uma visão de mundo onde a cultura e a educação triunfam sobre a destruição e a morte.
Assim, no Dia do Antigo Combatente, recordar Mário Viegas é mais do que uma homenagem a um artista excecional; é um lembrete da nossa responsabilidade coletiva em manter viva a chama da liberdade, da justiça e da paz. A sua vida e obra constituem um legado que nos inspira a olhar para além das sombras do passado, na busca incessante por um futuro onde o diálogo e a expressão criativa sejam as verdadeiras armas de combate.
Mário Viegas, entre versos e palcos, mostrou-nos que a verdadeira batalha é aquela que travamos em nome dos valores que definem a nossa humanidade. E neste dia de reflexão e memória, a sua voz, eternizada pela arte, continua a ser um chamado à ação, um apelo à consciência de todos nós para que jamais esqueçamos os verdadeiros custos da guerra e o incalculável valor da paz.
Joffre Justino
https://ensina.rtp.pt/artigo/mario-viegas-contra-a-guerra-em-palavras-ditas/