Estudos sugerem que os genes desempenham um papel significativo na formação da personalidade, das predisposições para certas condições de saúde e até nas decisões que tomamos ao longo da vida (Plomin, 2018). No entanto, os avanços na epigenética demonstram que o ambiente e as experiências moldam a expressão desses genes, reforçando a ideia de que não somos prisioneiros do nosso ADN (Meaney, 2010).
A genética pode influenciar a predisposição para várias condições de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e transtornos mentais. Estudos mostram que algumas variantes genéticas aumentam significativamente o risco de doenças como Alzheimer e depressão, mas fatores ambientais, como alimentação e exercício, podem reduzir esse impacto (Ridley, 2003). De acordo com Caspi et al. (2003), a presença de certos genes associados à depressão só se manifesta em indivíduos expostos a eventos de vida adversos, demonstrando a importância da interação entre genética e ambiente.
Pesquisas indicam que entre 20% e 60% do nosso temperamento pode ser explicado pela genética (Bouchard & McGue, 2003). Estudos com gémeos demonstram que traços como extroversão e neuroticismo têm uma forte base genética, embora o ambiente também tenha um papel relevante (Turkheimer, 2000). Assim, embora possamos ter uma predisposição para certos traços de personalidade, as experiências de vida influenciam profundamente a forma como esses traços se manifestam.
Os avanços na epigenética mostram que a expressão dos genes pode ser modulada por fatores externos. Por exemplo, um estudo realizado por Meaney e Szyf (2005) demonstrou que ratos que receberam mais cuidado materno desenvolveram respostas ao stress mais saudáveis, apesar de terem a mesma carga genética de outros que receberam menos cuidado. Isso significa que, mesmo que tenhamos uma predisposição para certos comportamentos ou condições de saúde, o ambiente pode modificar a forma como os nossos genes são ativados ou silenciados.
Outro exemplo clássico vem da pesquisa de Kendler et al. (2005), que revelou que indivíduos com predisposição genética para o alcoolismo têm maior probabilidade de desenvolver a condição se crescerem em ambientes onde o consumo de álcool é socialmente incentivado.
A epigenética, um campo emergente da biologia, revela que fatores externos, como alimentação, exposição a poluentes e experiências emocionais, podem alterar a expressão genética sem modificar a estrutura do ADN (Jablonka & Lamb, 2014). Isso significa que práticas saudáveis podem influenciar positivamente a expressão dos nossos genes, reduzindo riscos associados a doenças hereditárias e promovendo bem-estar mental.
Um estudo icónico liderado por Weaver et al. (2004) demonstrou que o comportamento materno pode influenciar a expressão de genes relacionados ao stress, sugerindo que o ambiente tem um impacto direto sobre a nossa biologia.e
Outro conceito interessante é a correlação gene-ambiente, que sugere que os nossos genes podem influenciar os ambientes que escolhemos. Plomin et al. (1997) argumentam que indivíduos com predisposição genética para determinados traços de personalidade podem buscar ou ser expostos a ambientes que reforçam essas características. Por exemplo, uma pessoa geneticamente predisposta à extroversão pode buscar atividades sociais intensas, enquanto outra, mais introvertida, pode preferir ambientes de menor estímulo social.
Embora a genética forneça uma base para a nossa identidade e comportamento, ela não define o nosso destino. Estudos demonstram que, apesar das predisposições genéticas, o ambiente e as experiências individuais desempenham um papel fundamental na nossa trajetória de vida (Gottlieb, 2007). Assim, temos o poder de moldar as nossas escolhas através de um estilo de vida saudável e da busca ativa pelo autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
A genética pode ser um mapa, mas nós temos o poder de traçar o caminho.