Brasil e Índia reagem a tarifas impostas por Trump e reforçam parceria estratégica

Lula e Modi defendem multilateralismo e planeiam ampliar comércio bilateral para mais de 20 mil milhões de dólares até 2030

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, conversaram por telefone esta semana para avaliar o impacto das novas tarifas anunciadas pelo governo norte-americano. A administração Trump elevou para 50% as taxas sobre produtos brasileiros e impôs um aumento adicional de 25% às importações da Índia, em retaliação pela compra direta ou indireta de petróleo russo.

Segundo o Itamaraty, Brasil e Índia são, até o momento, os países mais afetados pela nova política tarifária de Washington. No diálogo, Lula e Modi sublinharam a necessidade de fortalecer o multilateralismo e de enfrentar as decisões unilaterais que ameaçam o comércio global. Ambos reafirmaram o compromisso de ampliar a integração bilateral e mantêm a meta de elevar o comércio entre os dois países para mais de 20 mil milhões de dólares até 2030.

Entre as iniciativas discutidas, destacam-se a expansão do acordo comercial MERCOSUL–Índia e a troca de experiências em tecnologia financeira, incluindo a integração de sistemas como o PIX brasileiro e a Interface Unificada de Pagamentos (UPI) indiana. A cooperação em áreas como energia, tecnologia, defesa e saúde também foi reiterada.

A visita oficial de Lula à Índia foi confirmada para o início de 2026. Antes disso, o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, viajará ao país em outubro para participar da reunião do Mecanismo de Monitoramento do Comércio entre o MERCOSUL e a Índia.

Lula aproveitou a ocasião para abordar a transição da presidência do BRICS, que passará do Brasil para a Índia no final do ano. O presidente brasileiro pretende articular, juntamente com Modi e Xi Jinping, presidente da China, uma resposta conjunta às tarifas impostas por Washington.

"Não tenho intenção de falar diretamente com Trump sobre isso", afirmou Lula a jornalistas. "Quando minha intuição me disser que ele está disposto a conversar, não hesitarei em ligar para ele. Mas hoje, ele não está. E não vou me humilhar."

A estratégia brasileira aposta no fortalecimento da cooperação Sul–Sul e na construção de uma frente comum entre os países emergentes para resistir às pressões comerciais unilaterais.