Spoiler alert: não, não resistem. E é precisamente isso que nos propomos demonstrar.
A começar pela economia. Portugal, como muitos outros países europeus, enfrenta o desafio do envelhecimento demográfico. A população ativa está a diminuir e, sem um influxo contínuo de imigrantes, o país simplesmente não conseguirá sustentar os seus níveis de produtividade.
Os imigrantes não só preenchem lacunas no mercado de trabalho – muitas vezes em setores onde os trabalhadores nacionais são escassos – como também contribuem diretamente para o crescimento económico.
Os dados são claros: de acordo com o **Banco de Portugal**, a população imigrante tem sido responsável por uma parcela significativa do crescimento do PIB nos últimos anos. Estima-se que, sem o contributo dos imigrantes, o PIB nacional teria um crescimento muito mais modesto, comprometendo a recuperação económica pós-crise financeira de 2008 e a recente pandemia.
Mas, claro, talvez a ideia de que os imigrantes contribuem para a economia não seja suficientemente “patriótica” para alguns. Talvez, no imaginário da extrema-direita, seja preferível ver a economia a tropeçar de joelhos ao invés de reconhecer que o país precisa de braços estrangeiros para se manter de pé.
Outro mito persistente é o de que os imigrantes sobrecarregam o sistema de segurança social. Este argumento, repetido ad nauseam, cai por terra quando confrontado com os números reais. O **Instituto Nacional de Estatística** (INE) e a **Segurança Social** têm sido claros: os imigrantes em Portugal contribuem mais do que recebem.
Em 2022, por exemplo, as contribuições dos imigrantes para a segurança social ultrapassaram em muito os benefícios que receberam. Este é um dado que deve fazer corar qualquer defensor da ideia de que os imigrantes são um “peso” para o sistema.
De facto, sem a sua contribuição, a sustentabilidade da segurança social estaria em perigo muito mais cedo do que qualquer previsão alarmista sobre o envelhecimento populacional.
Aqui está uma ideia divertida: talvez aqueles que acusam os imigrantes de serem um fardo sejam os mesmos que acabam por depender, em última instância, dos impostos e contribuições sociais desses mesmos imigrantes para receberem as suas pensões. Ironia das ironias, não?
Há também a questão da integração. Em Portugal, os imigrantes não são apenas números em gráficos ou figuras de contabilidade. São vizinhos, colegas de trabalho, amigos. Contribuem para a diversidade cultural, trazem novas perspetivas e ajudam a enriquecer a sociedade em todos os níveis.
Os partidos à esquerda e ao centro têm sido firmes nesta questão.
Para o **Partido Socialista** (PS), os imigrantes são essenciais para a coesão social e para garantir um futuro sustentável para Portugal. O **Bloco de Esquerda** (BE) e o **Partido Comunista Português** (PCP) defendem que a integração dos imigrantes é uma questão de justiça social, reforçando a ideia de que uma sociedade inclusiva é, por definição, mais forte.
Do lado da direita moderada, o **Partido Social Democrata** (PSD) e o **CDS-PP** reconhecem o papel crucial dos imigrantes na economia e na segurança social, defendendo políticas de imigração que combinem integração eficaz com segurança e respeito pelos direitos humanos. Para eles, é claro que os imigrantes não são uma ameaça, mas sim uma oportunidade para o país continuar a prosperar.
A extrema-direita gosta de acenar com o espantalho da “ameaça cultural”. Segundo essa narrativa, os imigrantes trarão consigo valores que destruirão a identidade portuguesa. Ora, é importante lembrar que Portugal tem sido um país de imigrantes desde sempre, desde os tempos dos Descobrimentos até hoje. A cultura portuguesa é, em grande parte, o resultado de uma constante mistura de influências externas.
E, sejamos honestos, a identidade portuguesa não é tão frágil assim. Não se desmanchará por causa de meia dúzia de restaurantes novos ou de vizinhos com hábitos diferentes. Se algo, a história mostra que a cultura portuguesa tem o talento de absorver o que há de melhor em outras culturas, enriquecendo-se no processo.
Chegados a este ponto, fica claro que o discurso da extrema-direita contra os imigrantes não passa de uma manta de retalhos de preconceitos e falácias. A economia beneficia da presença dos imigrantes, a segurança social depende deles para se manter sustentável e a identidade cultural portuguesa só tem a ganhar com a diversidade.
Então, da próxima vez que ouvir alguém a repetir essas “preocupações” sobre os imigrantes, lembre-se: o verdadeiro perigo para Portugal não são os imigrantes, mas sim a ignorância e o preconceito que alimentam essas narrativas de divisão.
Em suma, Portugal precisa dos imigrantes. E quem não vê isso talvez precise de uns óculos… ou de uma lição de realidade.
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