Percebo então que o labirinto do título da mostra e sobre o qual escreve o curador Victor Gorgulho em seu texto crítico, é na verdade o segundo labirinto do conto de Borges: um espaço infinito como um deserto, no qual a geometria, os palimpsestos, as cores fortes e os tons de ferrugem das pinturas do artista se espalham e nos desafiam a viajar, em diálogo incessante entre contenção e transbordamento.
Durante trinta e cinco anos, o artista brasileiro vem construindo seu labirinto simbólico como um alquimista trabalhando a partir de materiais inusitados. Lonas usadas em camião, com manchas, rasgos e desgastes, são o suporte sobre o qual o lento processo de oxidação de metais cria a base, com seus volumes e texturas, posteriormente acrescida de camadas de pintura com tinta convencional em ousadas composições geométricas. Essa escolha subverte a tradição da pintura sobre a tela branca, e as obras são testemunhas da passagem do tempo, com memória e história.
Nas redes sociais, José Bechara posta sua prática diária de ateliê, não só em desenhos e pinturas como as que mostra nesta exposição, mas também nas outras mídias que utiliza – esculturas, fotografias, instalações, uma inquietude de quem sempre se renova ao se propor novos desafios e que o levaram a construir uma carreira internacional, com obras em diversas coleções particulares e instituições culturais. Como o artista escreveu em 2010, “todos os dias faço a mesma coisa: procuro coisas que não existem”.
Serviço:
“Deambulações no Labirinto”, exposição do artista José Bechara
Curadoria de Victor Gorgulho
De 5 de junho a 13 de setembro de 2025
Galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea
Rua Joly Braga Santos, lote F, R/C, 1600-123, Lisboa, Portugal