Lançado simultaneamente em Portugal e no Brasil pela Editora Urutau, "O Avesso da Casa", de Ozias Filho, ao meu ver é mais que um livro; é uma experiência sensorial e reflexiva nascida no ventre de um tempo único: o período pandêmico. Ozias, poeta, fotógrafo, jornalista e editor, brasileiro que vive em Portugal desde 1991, já reconhecido por obras como "Poemas do dilúvio", "O relógio avariado de Deus" e “Os cavalos comem maçãs”, nos entrega aqui um ensaio poético-fotográfico comovente.
O título é uma chave poderosa para o leitor. Com ele, o autor nos convida a olhar para dentro, para aquilo que normalmente fica oculto, para as costuras e estruturas que sustentam (e às vezes constrangem) o espaço doméstico. Este "avesso" transcende o físico; é o avesso da rotina, da sociabilidade, do próprio eu confrontado com o confinamento e a insegurança, o medo da morte e do desconhecido.
A grande força do livro reside na dança proposta entre palavra e imagem. Não se trata de fotografia ilustrando poema ou poema explicando fotografia e sim de uma solução gráfica que enfatiza este diálogo orgânico e complementar. Como nos relata Ozias, “no livro, os poemas estão separados das imagens, para que cada um encontre seu próprio sentir”. E também: “o observador, o outro, talvez encontre sentidos distintos nos poemas e imagens daqueles que eu próprio descortinei, segundo aquilo que me corroía nos dias de estranheza”.
Estranheza que hoje é a memória que o livro revive, o "avesso" da nossa casa – e de nós mesmos – que é revelado com delicadeza e profundidade. Uma obra para ser vista, lida, relida, pensada e sentida.
Serviço:
“O avesso da casa”, Ozias Filho – Editora Urutau (Portugal/Brasil)
ISBN: 978-65-5900-903-9
Formato: 13x16,5
72 páginas
Ano de edição: 2025