Portugal, até há pouco tempo silencioso perante os atropelos do regime, só reagiu de forma mais visível após a expulsão da RTP, da RDP e da Lusa de Bissau — ironicamente pouco depois de ter entregue à Guiné-Bissau a presidência da CPLP.
Durante a entrevista conduzida por Joffre Justino, diretor do Estrategizando, a Dra Mariama Saidi Dias, presidente do PAIGC em Portugal foi clara:
“Os militares, que deveriam ser garantes da liberdade e da estabilidade, protegem um poder ilegal. O povo não tem poder de decidir. Quem se opõe é preso, raptado ou morto.”
Denunciou ainda a descoberta de corpos no rio, alguns desfigurados com ácido, o colapso do sistema de saúde (“os pobres morrem sem diagnóstico, enquanto a elite é evacuada de helicóptero para o Senegal”), e um setor da educação marcado por greves constantes e anos letivos perdidos.
A dirigente sublinhou que a comunidade internacional permanece inerte, incluindo a União Europeia, a CEDEAO e a CPLP, enquanto o povo guineense é “abandonado à sua sorte”. Para ela, a situação é tanto mais chocante quanto a Guiné-Bissau foi o primeiro país de língua portuguesa a proclamar a independência, em 1973, liderado pelo pensamento visionário de Amílcar Cabral — hoje lembrado como combatente da língua portuguesa e da liberdade.
O apelo é direto:
“A Guiné-Bissau não tem condições para presidir à CPLP. Se continuarmos a fechar os olhos, quando começarem os conflitos armados será tarde demais.”
O Estrategizando, que se assume como um media da CPLP, reafirma assim o seu compromisso em apoiar a luta pela democracia na Guiné-Bissau e em toda a comunidade lusófona, mantendo viva a memória de Amílcar Cabral, símbolo maior da resistência e da dignidade dos povos.
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Foto de destaque: https://www.facebook.com/paigc2024