Longe de ser visto como problemático, o “tsundoku” carrega certo charme cultural, uma promessa de conhecimento futuro, como se as estantes repletas de livros fossem um universo de possibilidades ainda não exploradas. Mais que um acervo acumulado do passado, são rotas para possíveis futuros.

Essa mentalidade se alinha perfeitamente com o modelo de comercialização através de pré-venda, no qual os livros são adquiridos antes do lançamento oficial e a produção editorial e gráfica é feita já com a garantia do pagamento, reduzindo custos, desperdícios e incertezas.

Este modelo de publicação se consolidou após o isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19, quando se interrompem os lançamentos com noites de autógrafos presenciais e as editoras pequenas foram obrigadas a descobrir novas maneiras de se financiar e criar novas demandas.

Para o bibliófilo praticante do tsundoku, a pré-venda não é apenas uma questão de garantir um exemplar cobiçado ou de obter brindes exclusivos, as “recompensas”; é um ato de fé no autor, na editora e também na experiência de leitura que está por vir. É a materialização da antecipação, transformando a espera em um ritual. O livro encomendado se torna, para o leitor, um membro futuro da sua coleção, um convite à paciência e à promessa de que, quando ele finalmente chegar, se juntará à sua biblioteca particular com um potencial intacto e a mesma magia do primeiro dia.

Estou apoiando no momento, em Portugal, três pré-vendas de livros de autores que já acompanho há algum tempo e recomendo:

“Falanges”, livro de poesia visual do escritor Mauricio Vieira, com 16 páginas em tiragem limitada de 50 exemplares. Editado pela Traça, sua pré-venda vai até 31 de outubro. Maurício é autor, entre outros, dos livros de poesia “Manual Onírico de Jardinagem” e “As mãos vazias” e do romance “A árvore da liberdade” (Editora Gato Bravo). Em Lisboa, anima os Doidos Diversos e a Ciranda Poética, e edita desde 2014 a revista “Arvoressências”.

“Avestruz, pequeno estudo sobre a prontidão”, prosa poética do artista visual e escritor Diego Garcez, lançado pela Urutau no Brasil e em Portugal em pré-venda com 10% de desconto que vai até 20 de novembro. Diego é autor de “Satanás lilás”, livro de poesia lançado em 2024, e tem presença marcante em eventos de artes visuais com suas pinturas viscerais e performances transgressoras.

“Breve explicação sobre a origem da morte”, contos da bióloga e escritora portuguesa Rafaela Lacerda. Em pré-venda em Portugal e Brasil pela editora Contos de Samsara. Rafaela é autora do instigante romance “O outro olho da coruja”, publicado pela Editora Traça (Portugal) em parceria com a Caravana Grupo Editorial (Brasil). Escreve teatro, romance, conto e poesia.

E, finalmente, duas pré-vendas para quem está pelo Brasil ou tem possibilidade de receber os livros de lá:

“Os verbos estão lançados”, de Alexandre Brandão, em pré-venda pela Editora Patuá. Cronista, novelista, contista e poeta, Alexandre mantém o blog “No osso” e escreve na revista eletrônica “Rubem”. Este livro marca o retorno do autor aos contos, gênero que domina perfeitamente, depois de um período de 7 anos em que publicou poesia e novela.

Hugo Pascottini Pernet e seu “Diário do presidente Jair: primeiros registros de um capitão patriota”, em pré-venda pela Editora Urutau. O livro segue na trilha de outro livro do autor, o “Diário de um presidente”, editado pela Patuá e que já vai para a 2ª. edição, livro que ironiza de forma inteligente a sarcástica a política e as politicagens brasileiras com foco no ascensão e queda da extrema-direita.

Hoje sou leitor assíduo dos livros on-line em meu tablet, que me acompanha nos abatanados nas esplanadas agradáveis das praças e ruas de Lisboa – prazer bem mais difícil no Brasil, com a segurança às vezes deficiente. Mas ao meu ver nada se compara ao livro físico, ao sentir seu cheio e acaricia-lo em uma estante em uma livraria ou um sebo ou até em uma banca de um livreiro de rua, ao esperar por ele após encomendá-lo em uma pré-venda e a finalmente vê-lo chegar, folheá-lo e sentir que eles, os livros bons, permanecem.