As ruas verdes e os mais idosos 

Apesar dos impactos ambientais positivos que se têm observado com o desenvolvimento das ruas verdes, um estudo realizado no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa alerta para o facto de frequentemente não incluírem elementos essenciais para as pessoas mais velhas, como pavimentos acessíveis, zonas de descanso ou medidas de segurança, levantando preocupações sobre inclusão social.  

Um pouco por todo o mundo, têm vindo a ser desenvolvidas políticas de mobilidade ativa com o objetivo de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa para mitigar o impacto das alterações climáticas.

A criação de mais espaços verdes e de ciclovias são algumas dessas medidas. Contudo, um estudo realizado no Iscte alerta para a necessidade de o planeamento urbano considerar as políticas públicas de envelhecimento ativo.

Neste estudo, a equipa de investigação explorou a intersecção entre o planeamento urbano e a inclusão, focando-se em como as ruas verdes, fundamentalmente as que integram vegetação e mobilidade suave, podem apoiar a mobilidade e o bem-estar de adultos mais velhos.

“O planeamento do desenho urbano das ruas verdes tem tido como premissa a mitigação das alterações climáticas e a promoção do bem-estar, vindo, por isso, a englobar o incremento em espaços verdes e de exercício físico, e a criação de ciclovias”, explica André Samora-Arvela, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigador integrado do Centro de Investigação em Ciências da Informação, Tecnologias e Arquitetura (ISTAR-Iscte), primeiro autor do estudo.

“Neste estudo avaliámos o grau de alinhamento das políticas públicas de mobilidade ativa e de envelhecimento ativo a nível internacional, nacional e local que, neste caso, se refere à cidade de Lisboa”, esclarece o investigador.

O objetivo foi diagnosticar em que medida as políticas de mobilidade ativa consagram o respeito pelas diretrizes das estratégicas de envelhecimento ativo.

Os resultados do estudo sugerem que embora as políticas internacionais e municipais enfatizem atualmente ambientes urbanos amigos das pessoas idosas e, as estratégias de envelhecimento ativo em Portugal permanecem desligadas das políticas de mobilidade ativa.

“Em linha com o panorama internacional, os nossos resultados indicam que Portugal tem avançado na definição de políticas de mobilidade sustentável impulsionadas pelas metas climáticas” afirma Sara Eloy, arquiteta, professora na Universidade de Antuérpia e investigadora associada do ISTAR-Iscte.

De acordo com esta análise, a mobilidade ativa (pedonal e ciclável) em Portugal parece ter resultado essencialmente da experiência e do estudo das políticas implementadas em Lisboa, exemplificando como a prática municipal pode influenciar a prática nacional.

Contudo, em contraste com as políticas internacionais, as políticas de envelhecimento em Portugal afiguram ainda como desarticuladas das de mobilidade ativa.

Por que é importante considerar o envelhecimento ativo nas políticas de mobilidade e no planeamento urbano?

De acordo com Sibila Marques, psicóloga social, professora do Iscte e investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte), “incluir estratégias de envelhecimento ativo nas políticas de mobilidade é fundamental para promover cidades mais acessíveis, seguras e inclusivas para todas as pessoas”.

Se o desenvolvimento de ruas não considera o ponto de vista das pessoas mais velhas, “corremos o risco de aumentar o seu isolamento social, diminuir a sua autonomia, reforçando desigualdades sociais e o idadismo”, alerta a investigadora. Mariana Montalvão, bolseira de investigação no CIS-Iscte, relembra ainda que um mau desenho de ruas pode “colocar em risco a segurança das pessoas mais velhas” dando como exemplo a calçada portuguesa, que, devido à falta de manutenção, constitui, muitas vezes, um perigo para pessoas de qualquer idade.

Representando uma questão de justiça social e inclusão, estes e outros riscos podem comprometer a qualidade de vida dos idosos com potencial de aumento da pressão sobre os sistemas de saúde e de cuidados.

Para esta equipa de investigação, a análise realizada permite concluir que as ruas verdes e iniciativas relacionadas com a transição climática têm sido desenvolvidas principalmente ao nível municipal, mas frequentemente sem uma consistente abordagem participativa ou inclusiva.

“Para criar cidades verdadeiramente inclusivas é essencial considerar também o ponto de vista das pessoas mais velhas através de, por exemplo, projetos participativos”, sugere e enfatiza Sibila Marques.

“Para serem bem-sucedidas, as políticas devem ser implementadas com todos e para todos”, pode ler-se na conclusão do artigo publicado.

Este estudo foi realizado no âmbito do projeto GreenCity4Aging (REF. 2022.03478.PTDC), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e coordenado por Sibila Marques