De sexta-feira a domingo, o centro de Vila Verde transforma-se num cenário renascentista, acolhendo mais uma edição da Feira Quinhentista.

Um evento cultural e pedagógico que presta homenagem ao poeta Francisco Sá de Miranda (Coimbra, 28 de agosto de 1481 – Amares, 15 de março de 1558), considerado o introdutor do soneto e do verso decassílabo na poesia portuguesa.

Figura maior do Humanismo, Sá de Miranda viveu grande parte da sua vida na região minhota, especialmente em Vila Verde, onde escreveu parte significativa da sua obra. Para o autor, a poesia era mais do que arte: era um chamamento ético e social. Denunciava os vícios da corte, o abandono dos campos e a obsessão pelo luxo, apelando a uma vida simples, em harmonia com a natureza.

Como bem se lê nos seus próprios versos, da Carta a D. João III:

"Homem de um só parecer, / dum só rosto e d'ua fé, / d'antes quebrar que torcer / outra cousa pode ser, mas da corte homem não é."

A presidente da Câmara Municipal de Vila Verde, Júlia Fernandes, sublinha que esta iniciativa assenta no forte envolvimento das escolas e instituições locais, tendo como objetivo passar às novas gerações a memória de Sá de Miranda, o “poeta do Neiva”, e destacar a sua influência na literatura nacional, a par de figuras como Luís de Camões.

“É um momento de homenagem e de pedagogia viva”, referiu a autarca, reforçando que o evento pretende fazer jus à grandeza do poeta e à sua ligação profunda ao concelho.

Instalada no coração da vila, a feira recria um ambiente fidedigno da época quinhentista, com bancas de artesanato, gastronomia, animações de rua e figurantes trajados a rigor. Entre os destaques do programa está a Ceia Quinhentista, marcada para sexta-feira às 19h, e o já tradicional Cortejo Histórico, que percorre as ruas da vila com música, poesia e dramatizações da época.


🌞 O SOL É GRANDE

Francisco de Sá de Miranda

O sol é grande: caem co'a calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que de alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração que em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam de amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mistura,
Também mudando-me eu fiz doutras cores.
E tudo o mais renova: isto é sem cura!

📚 Leitura recomendada: “O Sol é Grande” – Sá de Miranda | RTP Ensina

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