Em Cabo Verde, a música não é apenas expressão: é herança, é pertença, é forma de existir no mundo.

E é neste fio invisível que liga o tambor ancestral ao palco contemporâneo que encontramos Sandra Horta — uma artista que não apenas canta, mas constrói universos sonoros com consciência, profundidade e identidade.

Sandra nasceu na ilha de Santiago, onde o som do batuque acompanha o nascer do sol e onde a saudade, antes de ser palavra, já é ritmo no corpo. Mas foi em Portugal que se formou, entre algoritmos e partituras. Concluiu a licenciatura em Engenharia Informática na Universidade de Coimbra e, paralelamente, estudou canto e jazz, numa fusão de razão e emoção que, mais tarde, viria a marcar toda a sua trajetória artística.

A Arte que Regressa ao Berço

Em 2014, após anos fora do país, voltou a Cabo Verde para uma curta visita. Mas não regressou. Ficou. “Sou uma pessoa muito apaixonada pela minha terra”, afirmou. E essa paixão transformou-se num compromisso — o de cantar a sua gente, as suas histórias e as suas dores, mas também os seus sonhos e o seu lugar no mundo.

A estreia discográfica deu-se com o EP “Primavera” (2022), uma ode à saudade e ao amor, produzida pelo mestre Tito Paris, que a apadrinhou desde cedo. Este trabalho apresenta-se como um mosaico musical onde mornas, jazz e arranjos clássicos se entrelaçam com naturalidade.

O single “Amor Amor Amor”, com letra de Mário Lúcio Sousa, é um hino à ternura — e ao amor como resistência —, num tempo onde tudo parece fugaz e fragmentado.Mas Sandra não se limita a cantar aquilo que está à sua volta. Ela convoca o mundo para dentro da sua voz.

Uma Voz que Faz Pontes

Ao longo dos anos, Sandra Horta colaborou com músicos de várias latitudes, transportando a alma cabo-verdiana para palcos improváveis. Gravou com o produtor português Diogo Clemente, conhecido pelo trabalho com Mariza, e partilhou faixas com o cantor espanhol Mário Garnacho, como no tema “Lindeza”, incluído na prestigiada compilação “Siesta XIV (Boys & Girls)” da Universal Music Polska, que cruzou blues, jazz e sonoridades africanas, levando-a até à audiência europeia.

A sua expressão musical é feita de encontros e de escuta. Em cada colaboração, Sandra não se perde — expande-se. Transita entre línguas e géneros com a mesma entrega com que defende as suas causas. Do Afrobeat à MPB, do fado ao soul, a sua voz mantém um fio condutor autêntico, que nunca deixa de ser profundamente cabo-verdiano.

Uma Artista em Estado de Causa

Sandra Horta é também mulher de causas. Cada canção que escreve ou interpreta carrega uma inquietação. Criou o projeto “Shintim Cabo Verde” durante a pandemia, transformando espaços históricos em palcos vivos, com concertos intimistas que aproximam a arte das comunidades.

Promoveu ações ambientais com o projeto “Cantos, enCantos e reCantos”, afirmando que “uma criança que aprende a proteger o meio ambiente é, amanhã, uma solução, não um problema”.

Sandra foi rosto de campanhas contra o assédio sexual infantil, autora de temas sociais como “Wake Up Now” (dedicado à educação das crianças) e lançou o podcast “H2Orta”, para discutir cidadania, ambiente e desenvolvimento sustentável.A sua arte é inseparável da sua visão de mundo: inclusiva, empática e transformadora.

Futuro: Um Álbum, Muitos Espelhos

Atualmente, Sandra prepara o seu primeiro álbum de originais, um projeto que promete revelar novas dimensões da sua identidade artística e pessoal. O EP “Primavera” foi apenas uma semente. O que está por vir será uma floresta de emoções, onde a cantora dará voz às suas múltiplas camadas: mulher, mãe, artista, cidadã.

Se há algo que distingue Sandra Horta é a capacidade de habitar a tradição sem se aprisionar nela, de dialogar com o mundo sem diluir as raízes, de cantar com verdade num tempo que exige cada vez mais vozes que não tenham medo de ser inteiras.

Em breve, no Estrategizando – Séc. XXI, realizaremos uma entrevista exclusiva via web com Sandra Horta, onde a própria artista nos revelará os bastidores do seu novo álbum, os desafios de criar a partir de Cabo Verde e a visão que tem para o futuro da música lusófona.

Fique atento — a conversa promete ser tão inspiradora quanto a sua música.

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Foto de  destaque:  https://www.facebook.com/SandraHortaArtist