Esta cidade-estado, situada numa pequena ilha no sudeste asiático, é hoje reconhecida como uma das sociedades mais avançadas em termos de integração entre tecnologia, natureza e qualidade de vida urbana.

Mas nem sempre foi assim.Em 1965, Singapura tornava-se independente, quase à força, da Malásia. Era uma pequena ilha sem recursos naturais, marcada pela pobreza e sem grandes perspetivas de desenvolvimento.

A sua viragem começou com uma liderança visionária — Lee Kuan Yew — que transformou o país num dos maiores centros financeiros do mundo e num dos mais admirados exemplos de planeamento urbano sustentável.Inspirada no conceito de “cidade num jardim”, Singapura implementou uma legislação única: cada novo edifício deve compensar a área que ocupa com 100% de vegetação.

O resultado é uma selva urbana vertical, com arranha-céus cobertos de árvores, parques suspensos e jardins no topo de edifícios.Um dos exemplos mais emblemáticos é o Marina Bay Sands, três torres unidas no topo por um parque em forma de navio. Lá, os visitantes encontram uma das piscinas infinitas mais famosas do mundo, suspensa a 200 metros de altura.

Ao lado, os Gardens by the Bay e suas “supertrees” gigantes misturam estética futurista com produção energética solar e colheita de água da chuva.

O Aeroporto de Changi, considerado o melhor do mundo, é mais do que um ponto de chegada: é uma experiência. A sua cúpula de vidro com uma cachoeira de 40 metros, o maior jardim indoor do planeta, e mais de 280 lojas e trilhos verdes criam uma sensação de parque temático natural. Tudo foi pensado para que a natureza esteja presente mesmo no ambiente mais urbano e artificial.Os hotéis e universidades seguem a mesma lógica.

O hotel Pan Pacific, por exemplo, divide a sua estrutura em terraços temáticos (floresta, praia, jardim e nuvem) e substituiu 200% da área do terreno por vegetação. Já a universidade NTU construiu um edifício colaborativo em forma de colmeia, com ventilação natural e paredes que arrefecem o ar — reduzindo o consumo energético em 30%.Ao contrário de outras megacidades que concentram tudo no centro, Singapura adotou uma lógica de “xadrez urbano”: edifícios altos em quadrados pretos, parques e espaços abertos nos brancos. Assim, consegue diluir a densidade populacional (a segunda mais alta do mundo) e eliminar praticamente os engarrafamentos.

Tudo isto suportado por um sistema de metro eficiente, rápido e interligado com todos os pontos da ilha.Num tempo onde o cyberpunk nos ensinou a temer um futuro tecnológico distópico, Singapura escolheu o solarpunk: um mundo onde a tecnologia é aliada da ecologia e do bem-estar. O arranha-céu CapitaSpring, por exemplo, não só abriga escritórios e habitação, mas também uma horta urbana, um pomar e uma floresta tropical no coração do distrito financeiro. E a sua praça alimentar apoia exclusivamente comerciantes locais.

O que distingue Singapura não é apenas a sua capacidade de erguer arranha-céus verdes ou aeroportos-jardim. É a forma como conseguiu inserir inovação no dia a dia da população, tornando-a acessível e funcional. Desde sensores que monitorizam o consumo de água e energia nas casas, até bairros com hortas comunitárias verticais, passando por aplicações móveis que indicam a pegada ecológica individual — tudo contribui para uma cidadania mais consciente.Este modelo mostra que sustentabilidade não é luxo, mas uma necessidade integrada nas políticas públicas, no desenho das cidades e na cultura da população.

E essa consciência começa cedo: o currículo escolar de Singapura inclui educação ambiental desde os primeiros anos, com visitas regulares a jardins, ecoparques e espaços de inovação verde.Nos países da CPLP, o desafio da urbanização sustentável é urgente.

Em cidades como Luanda, Maputo, São Tomé, Lisboa ou Praia, cresce a pressão sobre as infraestruturas, os recursos hídricos e a habitação. Mas também cresce o potencial de mudança.O que podemos aprender com Singapura?

1.Planeamento urbano de longo prazo, com prioridade ao bem-estar humano e ecológico.

2.Investimento em transporte público acessível e eficiente.

3.Incentivos à arquitetura bioclimática e aos edifícios verdes.

4.Educação ambiental transversal e comunitária, desde a escola à universidade.

5.Parcerias público-privadas com propósito, focadas em inovação social e tecnológica.Lisboa, por exemplo, já deu passos com o “Green Plan 2030” e os projetos-piloto de hortas urbanas e bairros sustentáveis. Maputo e Praia têm investido em mobilidade elétrica e requalificação costeira. Mas ainda há um caminho longo e desigual a percorrer.A resposta está na visão sistémica.

Cidades são organismos vivos: não se transformam apenas com obras, mas com cultura cidadã, inteligência política e coragem para inovar. O modelo de Singapura prova que é possível harmonizar densidade populacional com qualidade de vida, tecnologia com verde, progresso com humanismo.

Em vez de apenas copiar fórmulas, cada cidade da lusofonia precisa encontrar a sua versão de “solar punk”: uma narrativa urbana onde a justiça climática, a economia circular e a participação cidadã se encontram.

A verdadeira transformação sustentável acontece quando as pessoas se apropriam da cidade. Quando deixam de ser meros consumidores de espaço e passam a ser criadores do futuro. Singapura não é apenas um caso de sucesso. É um espelho que mostra o que podemos ser — se houver visão, ação e esperança.

📣 No Estrategizando – Séc. XXI, acreditamos que o futuro das cidades começa no presente das ideias.Se este artigo o/a inspirou, junte-se a nós. Partilhe, comente e assine:👉 https://www.estrategizando.pt/assinatura

📰 Porque pensar diferente é o primeiro passo para construir melhor.