Suas esculturas e instalações, feitas de fios e tecidos torcidos e de amarrações vigorosas, se espalham como arquiteturas orgânicas, como fractais em variadas cores e texturas. A consagração internacional – com participações em importantes mostras como as bienais de Veneza e de São Paulo e com obras no acervo de instituições como o MoMA, o Centro Pompidou, a Tate Modern e o Guggenheim – chegou como um contra-ataque poético. O mesmo circuito que hesitava em reconhecê-la viu o mundo celebrar sua genialidade.
Seu ateliê é um repositório pulsante de memórias. "Não descarto nada, são vidas vividas", diz, referindo-se a roupas, lençóis, bordados, fantasias de carnaval – enviados por conhecidos ou desconhecidos. Esses fragmentos se tornam matéria-prima para uma prática que ela define como "lenta": "Não tenho pressa. A obra tem o tempo dela, e o meu tempo é lento". Dessa serenidade e paciência nascem peças que costuram o íntimo e o universal: "Respeito tudo o que recebo... tenho material para mais uns trezentos anos de trabalho, mas não fico presa", completa, revelando que seu desapego permite a renovação do fluxo criativo: "o trabalho é para o mundo".
Recentemente, a artista esteve em Guiné-Bissau participando da Bienal MoAC Biss, vindo em seguida a Lisboa para a montagem e a abertura de sua primeira exposição em Portugal, “Torcer, amarrar e prender”, na Kunsthalle Lissabon, em parceria com sua galeria brasileira, a paulista Mendes Wood DM. Em conversa no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, sua fala pausada e seu sorriso doce e firme reafirmaram seu papel como tecelã de diálogos e de memórias. Há dança em seus gestos ao trançar panos e em sua coragem ao ocupar espaços antes negados. Sua obra transcende o objeto, é um corpo em movimento que entrega ao público não somente arte, mas um convite à reinvenção: das memórias que carregamos, das fronteiras que nos impõem, um gesto que tece e uma fala que reafirma: "Meu trabalho é minha maneira de exercer minha liberdade".
Serviço:
“Torcer, amarrar e prender”, Sonia Gomes – até 16/08/2025
Kunsthalle Lissabon
Rua José Sobral Cid 9E, Lisboa