Este tipo de autoritarismo não é novo. Entre 1979 e 1983, as Direitas, uma vez no poder, revelaram a mesma tendência autoritária. Só não usaram todas as “garras” porque perderam, entretanto, as eleições presidenciais. Hoje, olhando para os resultados eleitorais de 2025, percebemos que a AD (Aliança Democrática), agora em aliança tácita ou explícita com o Chega (CH), ainda transporta resquícios dessa herança autoritária — agora amplificados pela ascensão do radicalismo da “cheganice”.
É fundamental reconhecer que a Direita, no seu todo, carrega um peso eleitoral significativo. Nas eleições de 2025, a AD, o Chega e a Iniciativa Liberal somaram juntos 39,3% dos votos. Mas esse valor só é possível com o contributo decisivo do Chega. Ou seja, sem a “cheganice”, a Direita não alcançaria tal expressão.
Este fenómeno leva-nos a refletir: de onde vem, afinal, este apoio ao Chega? Muitos analistas defendem que a base de apoio do partido inclui descendentes de antigos pides, legionários, informadores e outros nostálgicos do Estado Novo. Contudo, nesta eleição de 2025, o crescimento do Chega parece ter ultrapassado as fronteiras da sua família sociológica original, estendendo-se agora a novos segmentos do eleitorado.
* AD (1979): 2.719.208 votos / 7.249.346 eleitores → 37,5%
* AD (1980): 2.868.076 votos / 7.179.023 eleitores → 40%
* AD+PSD+CDS+Chega (2025): 3.627.516 votos / 9.265.493 eleitores → 39,2%
Ainda assim, a atual AD representa apenas 47% da força eleitoral da AD histórica de 1979 e 1980, um dado que ajuda a relativizar a sua suposta hegemonia atual. Os números indicam que, embora visível, o crescimento da Direita está muito dependente da radicalização, e não de uma consolidação democrática genuína.
Partido | 2025 | 2024 | Variação |
---|---|---|---|
AD | 1.951.792 | 1.814.021 | +137.771 |
Chega | 1.345.575 | 1.169.836 | +175.739 |
IL | 330.149 | 319.685 | +10.464 |
Total Direita | 3.627.516 | 3.303.542 | +323.974 |
Se nada for feito, se não houver pedagogia antifascista séria e consequente, a “cheganice” continuará a crescer. Entre namoros e birras políticas entre a AD e o Chega, o que está em causa não é apenas a disputa por lugares no parlamento — é a preservação da democracia.
A história mostra-nos que quando o autoritarismo se infiltra nos momentos de euforia coletiva — até em festas futebolísticas — é porque a semente do medo já começou a germinar. Que o futuro não se deixe cegar pela indiferença.
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