O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfrenta um dos momentos mais contraditórios da sua política externa.
Depois de impor tarifas de 125% sobre produtos chineses — num gesto interpretado como um endurecimento da guerra comercial —, Trump passou a elogiar o presidente da China, Xi Jinping, chamando-o de “uma das pessoas mais inteligentes do mundo” e pedindo por um acordo.
A súbita mudança de tom reflete não apenas a imprevisibilidade típica do ex-presidente, mas também uma pressão crescente de diversos setores internos e internacionais. Wall Street operava em modo “derretimento”, investidores estrangeiros abandonavam títulos do Tesouro americano e aliados estratégicos, como a União Europeia, decidiram suspender por 90 dias medidas de retaliação tarifária, na esperança de uma trégua.
Segundo o jornalista Josias de Souza, o gesto de Trump não é um movimento de força, mas sim um “fiasco prematuro”. Sua retórica inicial de que as tarifas iriam “tornar a América grande outra vez” não se sustentou perante a realidade econômica: aumento da inflação, desconfiança dos mercados e descontentamento de grandes empresários, como Elon Musk, que chegou a chamar o assessor econômico de Trump, Peter Navarro, de “mais burro que um saco de tijolos”.
A China, por sua vez, não respondeu com elogios. A reação oficial de Pequim foi dura: acusou os EUA de “bullying” e declarou que “lutará até o fim” caso Washington insista na guerra comercial. A firmeza chinesa é estratégica. Apesar de viver uma crise imobiliária interna e abalada por uma queda na confiança do consumidor, Pequim ainda detém mais de 800 mil milhões de dólares em títulos da dívida norte-americana e controla parte essencial da cadeia de fornecimento global, incluindo componentes tecnológicos vitais para a economia dos EUA.
Especialistas alertam que o que está em curso pode ser o início de um "divórcio" entre as duas maiores economias do mundo. Mas esse afastamento seria extremamente custoso para ambas as partes — e para o resto do planeta. Produtos do dia a dia dos americanos, como smartphones, brinquedos e computadores, vêm em grande parte da China. Ao mesmo tempo, a economia chinesa ainda depende das exportações para os EUA.
Por isso, não há “bonzinhos” nesta história, apenas interesses em disputa. Como conclui Leonardo Sakamoto, comentarista político, "se os dois líderes forem realmente tão inteligentes quanto dizem, vão precisar sentar para conversar e evitar que o caos se transforme em recessão global."
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